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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Desidério, meu irmão.

Por Ildásio Tavares, de Salvador

Meu pai soube casar minhas filhas (!) Em vez de perder uma irmã, eu sempre ganhava um irmão, Dr. Manuel Desidério Teixeira Neto, foi o primeiro da lista. Minha irmã Emília casou com ele aos 18 anos. E no ritual do severo namoro do interior, ela se avistava de vez em quando, sob guarda, com seu pretendente. Jovem e próspero médico, pertencente a uma família tradicional como a nossa, sócio da única clínica que existia em Ipiaú, a 18km de meus pais em Ibirataia.

Emília só ia lá nas férias do colégio Bom Jesus, Itapagipe. Saiu do internato para casar. Antes, chegou a me arranjar uma namorada no colégio, Eliana, uma loura. Eu morava com uma tia em Salvador e passava as férias em Ibirataia, com Gilberto Gil e o Quarteto em Cy.

Uma ocasião, fomos visitar Desidério em sua clínica, eu, minha mãe e Emília. Minha mãe chama Hilda e é por isso que sou Ildásio. O escrivão comeu o agá. Rapaz, quando chegamos no consultório, ele nos recebeu na maior banca, olhando para gente de cima, e mal dirigindo a palavra. Emília toda nervosa. Detestei o cara. Quando saímos, tentei boicotar o casamento. Mulher quando quer casar, ninguém segura.Casaram na casa da minha tia, no Boulevard América.

Eu e essa tia viajávamos para nossa fazenda via Ipiaú e passávamos uns dias na casa de minha irmã . Foi aí que fui conhecer mesmo Desidério, uma das pessoas que influenciaram minha formação intelectual. Desidério é irmão de Euclides Neto; e não lhe fica atrás em cultura e erudição. Eu comecei essas viagens adolescente e na casa do cunhado fui encontrar, aos montes, o que eu mais gostava no mundo – livros. Ele era um leitor infatigável, um faro e bom gosto incríveis.

Naquele interior da Bahia, sua biblioteca era de fazer inveja, com os clássicos todos, os Clássicos Jackson, a Coleção Nobel, uma coleção de romances socialistas latino americanos dirigida por Jorge Amado. Enfim, eu que tinha fama de menino prodígio, aprendi a respeitar e admirar a cultura de Desidério cujos papos, varando noites ou jogando gamão, cimentaram uma grande confiança nele;em sua visão de mundo; sua consciência política e plantaram em mim a semente do meu futuro marxismo Família admirável essa Teixeira.

Não mais deixei de passar em Ipiaú e ouvir meu cunhado que lia todas as revistas e jornais, atualizado em tudo que se passava no país e no mundo. Até que abriram a BR 101 e mudamos o itinerário. Médico da família, mais tarde meu cunhado veio morar em Salvador. Outro traço notável é seu espírito solidário. Desidério acompanhou todas as operações e partos da família. Eu não confiava em nenhum médico no mundo, senão nele. Até para me dar receita de remédio controlado.

Desidério meu irmão agora fez 80 anos numa festa maravilhosa.

Em Busca Vida na casa de seus sobrinhos Jairo e Angélia Teixeira Gerbase. Não pude ir. Estava em Feira de Santana convidado para o lançamento de Silvério Duque e só achei ônibus de volta tarde. Mas pelo menos registro escusas para ele, irmão e guru, e para minha irmã.

A comida preferida em seus 80 anos, preparada pela querida esposa. Na sua adorada Busca Vida, em casa dos sobrinhos. Caudas de lagostim na manteiga, maionese de batatas e salada de tomate.

Comentários (clique para comentar)

- 17/05/2010 (09:05)

Ato falho escrito, ou seja a psicanálise é possível pela escrita também, porém não pode ser "revisada", ha, ha...

- 14/05/2010 (16:05)

Ildásio, depois do seua artigo sobre tio Manuel vai ficar difícil o meu entrar no ar. Vou pensar duas vezes antes de publicar. beijo

- 14/05/2010 (14:05)

Grande sujeito! Mas o cabra não deve lembrar de mim, 1954, carnaval, em um Plymouth, tomando coquinho, comendo acarajé e cantando "Óia, os ôio dela, que beleza, Teresa!". Mas o perdi de vista. Abraço cumpadre!