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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Não sabemos

Não sabemos o que fazemos por aqui. Não temos a menor noção do significado ou da razão de nossa existência. Filosofia e psicanálise contornam o assunto, determinando algo seria em resumo: não queira saber, não é possível saber.

Aprendi isto em recente viagem à Índia, com seu quinto da população mundial andando de um lado para o outro, como milhões de formigas, procurando algo. Mas o quê? E dentro da nossa ignorância não perguntamos, não nos incomodamos e sejamos felizes.

Argumentos sólidos como estar aqui para “ajudar aos outros”, “cuidar da família”, “ser rico, feliz, saudável, bem consigo” são de fato consistentes. Entretanto na escala real a perguntarmos qual a razão de tudo isto, tornam-se desculpas ou argumentos pífios, algo como as igrejas e cultos propagarem seres superiores regerem nossas vidas todas; e obedientes, e agradando aos deuses inventados, jamais perguntarmos quem ou o que rege a vida (ou morte) dos seres, pois deve haver algo além de figuras inventadas ou malucas deificações autoproclamadas...

A grande maioria da população do planeta azul de fato segue este rito, o não perguntar ou não se importar, procurar ser feliz.

Was ich nicht weiss, macht mich nicht heiss*

E marchamos ignorantes em relação ao significado de estarmos aqui, nos matando de trabalhar, nos matando de fato, nos matando de alegria, nos matando com drogas, esportes malucos, guerras inúteis. Nascemos e morremos, alguns antes. Outros depois. Procuramos nos eternizar através da sofisticada medicina, das estátuas após a morte, da iconização de nossos atos.

Porém não sabemos porque estamos aqui, a razão de levantarmos todas as manhãs e seguirmos ao trabalho, para sempre procurarmos algo mais. Ou desistirmos e irmos à merda, também faz parte.

A procura da felicidade e do well being é nossa máxima, até quando se trata de algo perverso como a doentia alegria de padres abusando de menores, homens a colecionarem esposas em haréns, ou explodir bombas em nome de religiões, a observar 22 homens adultos correrem como meninos atrás de uma única bola e gritar loucamente por isto...

Não sabemos quem nos criou ou se foi espontâneo. Alguns de nós, com grande curiosidade, estudam o passado, estimam o futuro, perscrutam os céus com telescópios e instrumentos para ver se por outros lados aconteceu algo similar; ou se algum dos deuses acena a mãozona, todavia as barreiras são imensas. Quando dizem Alpha Centauri, a constelação mais “próxima” na nossa Via Láctea, estar somente 70 anos-luz daqui, bem, alguém imaginaria viajar à velocidade da luz (que Einstein diz ser impossível, pois nos transformaríamos em energia) por 70 anos para lá chegar e saber mais? Nosso tempo é terreno, nos perdemos na escala universal, esta que nem sabemos qual é.

E neste isolamento, 6.000.000.000 de figuras caminhantes compostas de proteínas, água e impulsos elétricos seguem acreditando no que alguns dizem: procure a felicidade, não se importe de onde viemos nem para onde vamos.

Somos assim?

* "O que não sei, não me incomoda."

Um pouco simplista, na nossa ignorância, creditar à espontaneidade ou criação nossa e outras existências.

Comentários (clique para comentar)

Hermógenes de Castro & Mello - 29/04/2010 (15:04)

Com certeza minha amiga, mas às vezes fico curioso...

emilia - 29/04/2010 (12:04)

Desde que a gente começa a ter idéia do universo e nossa vida nele inserida, essas são as perguntas. Mas eu acredito que ficarão eternamente sem resposta, pois caso contrário a vida seria sem nenhuma graça. A graça está no mistério e na pergunta sem resposta. Bjs camarada!!!!