Não sabemos
Não sabemos o que fazemos por aqui. Não temos a menor noção do significado ou da razão de nossa existência. Filosofia e psicanálise contornam o assunto, determinando algo seria em resumo: não queira saber, não é possível saber.
Aprendi isto em recente viagem à Índia, com seu quinto da população mundial andando de um lado para o outro, como milhões de formigas, procurando algo. Mas o quê? E dentro da nossa ignorância não perguntamos, não nos incomodamos e sejamos felizes.
Argumentos sólidos como estar aqui para “ajudar aos outros”, “cuidar da família”, “ser rico, feliz, saudável, bem consigo” são de fato consistentes. Entretanto na escala real a perguntarmos qual a razão de tudo isto, tornam-se desculpas ou argumentos pífios, algo como as igrejas e cultos propagarem seres superiores regerem nossas vidas todas; e obedientes, e agradando aos deuses inventados, jamais perguntarmos quem ou o que rege a vida (ou morte) dos seres, pois deve haver algo além de figuras inventadas ou malucas deificações autoproclamadas...
A grande maioria da população do planeta azul de fato segue este rito, o não perguntar ou não se importar, procurar ser feliz.
Was ich nicht weiss, macht mich nicht heiss*
E marchamos ignorantes em relação ao significado de estarmos aqui, nos matando de trabalhar, nos matando de fato, nos matando de alegria, nos matando com drogas, esportes malucos, guerras inúteis. Nascemos e morremos, alguns antes. Outros depois. Procuramos nos eternizar através da sofisticada medicina, das estátuas após a morte, da iconização de nossos atos.
Porém não sabemos porque estamos aqui, a razão de levantarmos todas as manhãs e seguirmos ao trabalho, para sempre procurarmos algo mais. Ou desistirmos e irmos à merda, também faz parte.
A procura da felicidade e do well being é nossa máxima, até quando se trata de algo perverso como a doentia alegria de padres abusando de menores, homens a colecionarem esposas em haréns, ou explodir bombas em nome de religiões, a observar 22 homens adultos correrem como meninos atrás de uma única bola e gritar loucamente por isto...
Não sabemos quem nos criou ou se foi espontâneo. Alguns de nós, com grande curiosidade, estudam o passado, estimam o futuro, perscrutam os céus com telescópios e instrumentos para ver se por outros lados aconteceu algo similar; ou se algum dos deuses acena a mãozona, todavia as barreiras são imensas. Quando dizem Alpha Centauri, a constelação mais “próxima” na nossa Via Láctea, estar somente 70 anos-luz daqui, bem, alguém imaginaria viajar à velocidade da luz (que Einstein diz ser impossível, pois nos transformaríamos em energia) por 70 anos para lá chegar e saber mais? Nosso tempo é terreno, nos perdemos na escala universal, esta que nem sabemos qual é.
E neste isolamento, 6.000.000.000 de figuras caminhantes compostas de proteínas, água e impulsos elétricos seguem acreditando no que alguns dizem: procure a felicidade, não se importe de onde viemos nem para onde vamos.
Somos assim?
* "O que não sei, não me incomoda."