Língua e Literatura
Por Ildásio Tavares, de Salvador
Desde que estudei, pela primeira vez, rudimentos de teoria literária na ACBEU, idos de 1958 que me acostumei a julgar textos e não pessoas, evitando assim os julgamentos afetivos ou abrandando-os. Logo, ao estudar letras, deparei com a Nova Crítica que pregava o primado do texto. De lá pra cá, tenho estudado exaustivamente as diversas escolas de crítica literária e me aprofundado em estudos textuais. Tendo passado por todos os graus, até o pós-doutorado, além de ser um infatigável leitor, hoje em dia, quando cai um texto em minha mão, de pronto sou capaz de emitir um parecer. Mesmo assim procedo a uma leitura cuidadosa mas quase nunca um texto que eu achara ruim vem a melhorar. Eu agucei a minha percepção literária...
Numa escalada que começa na Poética de Aristóteles, o texto literário tem sido abordado de inúmeros modos. O conhecimento mais profundo da língua vem, sobremaneira, ajudar na avaliação do objeto literário. A linguagem literária tem como argamassa a língua. Como pode alguém ser um bom escritor se ele não maneja bem a língua? A redação literária é o cume dos processos de redação e o discurso poético é o mais elevado. Tenho visto aprendizes aventurarem-se no campo da poesia sem ter resolvido seus problemas básicos de redação, sem uma boa seleção vocabular, sem uma concordância lógica, sem se preocupar com a eufonia., fazendo algazarra.
A gramática normativa começa com Aristóteles, como aliás quase tudo no Ocidente. Certa feita, eu conversava na varanda de nosso grande filósofo Antônio Luis Machado Neto. Falava-se da possibilidade de vida em outro planeta. De repente, Machado Neto inquiriu. “Se acaso houver vida em outro mudo, quem será o Aristóteles deste planeta?” tamanha a importância deste pensador.
Em sua gramática, o grego definiu 4 categorias gramaticais, nome, verbo, particípio e conectivos. Esta conceituação iria durar mais de dois mil anos até Ferdinand de Saussure dar a guinada estruturalista e a gramática passar a ser descritiva.
O maior conhecimento das funções lingüísticas permitiu um maior conhecimento das funções literárias. Determinados processos de construção literária tornavam-se claros até os limites de um código onde se fixava o produto estético a nível de linguagem. É muito comum o leitor passar por cima da linguagem e se debruçar apenas no conteúdo. Mas o conteúdo não determina a qualidade per se se não estiver harmoniosamente ligado com a forma. Quanto mais estiverem integrados os dois, mais elevado será o poema, o conto, a novela, o romance., a crônica.
São inúmeros os artigos encarando o texto literário à luz da lingüística de Saussure pra cá. Inclusive o famoso Lingüística e Poesia do mestre Roman Jakobson. Nesses artigos se procura explicitar os mecanismos literários com alguma objetividade. É muito comum um escritor medíocre fazer pouco caso da Teoria Literária, alegando que poesia não é ciência. Porém, quanto mais se entender o funcionamento da língua mais se entenderá a literatura.