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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Exílio...

De Zurique-Oerlikon, Suíça

A coisa jamais havia acontecido em tal escala, pelo menos não nos tempos de aviões que voam muito alto, estimo a partir de 1950, com turbinas. De qualquer modo, as autoridades decidiram que todos ficariam no chão, fosse escala vindo da Índia ou não. Sem exceção.

Com isto, graças a um vulcão em uma ilha distante, muito distante de nós, a Islândia, o escriba Hermógenes, apesar de apolítico e agnóstico, passa por seu primeiro exílio involuntário... Na fria Suíça, na gelada Zurique. Ironize-se, é claro. Poderia ter sido pior.

Com mais centenas de milhares de outros passageiros aqui naufragados, sem poder seguir viagem pelos céus, inundados de, dizem, perigosas cinzas vulcânicas e fina sílica, que pode afetar turbinas e fazer o vôo terminar em desastre. Tão grave, que Barak Obama, Sarkozy e Ângela Merkel desistiram de seguir por avião ou terra ao enterro do presidente da Polônia, tragicamente falecido (ou morto?) semana passada.

Pouco a fazer a não ser esperar e conhecer um pouco deste oásis fiscal para ricos árabes, funcionários públicos latino-americanos e suas mutretas, médicos americanos, profissionais liberais alemães, empresários franceses, comerciantes chineses e por aí segue. Um país de brinquedo, dizia meu falecido pai, acho que citando alguém que não me recordo. De fato, arrumadinho.

Jamais viveria aqui, é quase estéril de tanta arrumação, apesar de eu ser um doentio amante de certo ordenamento. Assim como também quase trinta por cento de sua população atual, estrangeiros. Todos os garçons, motoristas de táxi, arrumadeiras e encarregados de serviços são estrangeiros. Desde russos a indonésios, de indianos a alemães, de brasileiros a turcos.

Compreensível, pois principalmente na Suíça alemã onde estamos encalhados, fortemente industrializada, penso no passado recente era complexo e caro o emprego aos locais, optando-se em importar mão de obra. Que ficou; e mal e mal se incorporou, com moças vietnamitas falando o mais correto suíço-alemão, uma língua gutural ao extremo e incompreensível até aos alemães, portanto mais admirável.

Este o perfil, onde o “nordestino” é o estrangeiro, colocado em seu lugar com seus bairros, seus restaurantes e seções “étnicas” nos supermercados, como os portugueses, apesar de europeus. Porém o sonho sofrido de quem imigra, a cidade com serviços hiper-operacionais, tudo funciona, limpíssima, baixa ou inexistente criminalidade e pagando bem, permitindo aos que se aventuraram remeter bons valores à origem, para manter fora da miséria seus próximos.

Uma opção triste, mas a realidade é esta. Espero que este “exílio vulcânico” termine logo, ando com saudades. Alguém por gentileza aplaque Odin e sua fúria nórdica pela Islândia, deixando-nos voltar aos deuses da umbanda...

1 Zurique, bonitinha. Mas exilado por aqui? Não encanta...

2 Uma ida à catedral sob a égide do reformista Zwingli, quem sabe muda os ventos e as cinzas vulcânicas se deslocam para o pólo norte? Mais fervor...

3 Uma escapadinha ao museu, o Kunst Haus, curiosamente bem provido, aqui a companheira a 50 cm de 50 milhões de dólares...

4 Um pouco de desabafo diante da perspectiva de mais dias a aguardar "repatriação". Pegando o touro pelos chifres em Oerlikon-Zurique.

Comentários (clique para comentar)

- 24/04/2010 (19:04)

Em Genebra há multas por pertubação da ordem, caso se dê descarga no sanitário após as 10 da noite...

marcos - 23/04/2010 (21:04)

Genebra é talvez mais impressionante ainda em termos de número de "Eunices", "Lindalvas", "Marluces" e obreiras similares. Aquilo sim, pareceu-me pelo menos há um ano, lugar terrível para exilar-se, voluntariamente ou não.

marcos - 23/04/2010 (21:04)

Gostei da foto ao pé do artigo..