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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Elucubrações barbosianas

Por Ludwig von Albarus, de São Paulo

Todo mundo conhece Ruy Barbosa, dispensa apresentações. Era um intelectual, não perdia um só momento de sua existência. Estudioso e ávido leitor incorrigível.

Em sua bela casa na Rua São Clemente, hoje museu, até altas horas entregava-se aos livros, devorando páginas e mais páginas, repensando os escritos, fazendo anotações.

Eis que um belo dia, aliás, uma bela madrugada, viu-se forçado a interromper sua saborosa leitura, para verificar certo có-co-ri-cocó muito suspeito, pelos lados, óbvio, do galinheiro. Logo alí, no quintal.

Saindo, pôde observar que havia um "visitante", com ótimo apetite, porém péssimas intenções, arrebanhando suas gordas frangas, seguramente para saboreá-las nos dias que seguiriam.

Furioso com o motivo do intervalo forçado em suas leituras, lascou ele:

"Quem sois vós, que ousais conspurcar o sacrossanto âmbito do meu lar? Por esta atitude intempestiva e impensada, que demonstra ser vossência um macróbio de má prosopopéia, e pior catadura, convocarei de imediato os dignos representantes do poder repressor do Estado, para conduzí-lo à enxovia; e depois às barras dos tribunais!"

A ladina criatura, ainda perplexa com o flagrante e enxurrada de palavras complexas, saiu-se com esta:

"...tá bom, dotô, mas levo ou não as penosa?" !

1 Talvez o maior causídico na história do país, baiano de Salvador, nascido em 1849 e falecido em 1923. Quatro vezes tentou ser presidente, mas não conseguiu.

2 Sua casa na Rua São Clemente no Rio de Janeiro. Hoje Museu Casa de Ruy Barbosa.

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