Elucubrações barbosianas
Por Ludwig von Albarus, de São Paulo
Todo mundo conhece Ruy Barbosa, dispensa apresentações. Era um intelectual, não perdia um só momento de sua existência. Estudioso e ávido leitor incorrigível.
Em sua bela casa na Rua São Clemente, hoje museu, até altas horas entregava-se aos livros, devorando páginas e mais páginas, repensando os escritos, fazendo anotações.
Eis que um belo dia, aliás, uma bela madrugada, viu-se forçado a interromper sua saborosa leitura, para verificar certo có-co-ri-cocó muito suspeito, pelos lados, óbvio, do galinheiro. Logo alí, no quintal.
Saindo, pôde observar que havia um "visitante", com ótimo apetite, porém péssimas intenções, arrebanhando suas gordas frangas, seguramente para saboreá-las nos dias que seguiriam.
Furioso com o motivo do intervalo forçado em suas leituras, lascou ele:
"Quem sois vós, que ousais conspurcar o sacrossanto âmbito do meu lar? Por esta atitude intempestiva e impensada, que demonstra ser vossência um macróbio de má prosopopéia, e pior catadura, convocarei de imediato os dignos representantes do poder repressor do Estado, para conduzí-lo à enxovia; e depois às barras dos tribunais!"
A ladina criatura, ainda perplexa com o flagrante e enxurrada de palavras complexas, saiu-se com esta:
"...tá bom, dotô, mas levo ou não as penosa?" !