Chopin
Por Silvério Duque, de Feira de Santana
Certa vez ouvi de um estudante, aqui, do Curso de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Feira de Santana, a seguinte afirmação:
“Não gosto de Chopin”.
Até aí tudo em ordem, o gosto não se discute – se aprimora –, mas não pude conter a curiosidade e perguntei:
“Por quê?”.
Antes não tivesse feito, pois a resposta do infeliz só me fez ver, mais uma vez, o quanto de idiotice se pode facilmente encontrar e, pior ainda, produzir nas nossas universidades:
“Não gosto de Chopin porque ele é muito melancólico”.
Após ouvir tão articulado rincho, tomei a atitude melhor cabia a alguém com o mínimo de bom-senso, ou seja, repugnei-o, afastei-me, e, miudamente me recompondo, avaliando o que não perdera, segui vagaroso e de mãos pensas.
No que eu não podia acreditar era que a frase párvoa de um dos futuros professores de seus filhos, caro leitor, despertara-me algumas reflexões com respeito ao Gênio de Zelazowa Wola. Não que eu estivesse a filosofar sobre a chocolaridade do chocolate, como queria a despropositada afirmação de nosso futuro educador, mas não pude deixar de pensar que se há alguém capaz de sintetizar todas as qualidades do Romantismo e, ao mesmo tempo, seus piores defeitos este é Frédéric Chopin.
Como as figuras mais tarimbadas que, comumente, conhecemos em nosso romantismo literário, tais como Castro Alves e Junqueira Freire, sua vida foi curta, ainda que tenha vivido um pouco mais do que os bardos baianos, mas intensa; triunfal, e cheia de péssimos momentos; de sonhos não realizados, com a glória do reconhecimento...
Sem dúvidas, a figura de Chopin foi, ao longo de quase dois séculos, carregada de um sentimentalismo que lhe infundiu uma falsa fraqueza física facilmente desmontada se tomamos conhecimento de seu incansável trabalho como concertista e lhe consagrou como homem de profunda força moral e inigualável talento – no que se refere a este último, e à sua precocidade, somente Mozart lhe é análogo e, assim como Mozart, soube tirar grande proveito desta precocidade, como soube muito bem tirar proveito da imagem heróica com a qual chegou a Paris, em 1831, e como se aproveitou até mesmo da imagem de moribundo recluso quando a tuberculose atingiu a sua fase mais cruel, pois nunca se editou e vendeu tantas músicas, àquela época, como aconteceu às obras que Chopin produzia em seu exílio em Majorca.
Frédéric Chopin nasceu perto de Varsóvia, capital da Polônia, em 1º de março de 1810, filho de um francês imigrante com uma jovem pianista de tradicional família polonesa, não é à toa que Chopin se ligará à música desde muito menino. Foi com a mãe que, com apenas seis anos, teve as suas primeiras aulas de piano, que, logo, seriam assumidas pela batuta de Adalberg Zwyny, que lhe infundiria, o quanto antes, a música de Bach e de Mozart. Aos sete anos, viria sua primeira composição, uma polonaise. Aos oito, o primeiro concerto. Com dose anos, após tocar na Rússia dos Czares e para o grão-duque Constantino, Zwyny nada mais tem a lhe ensinar. O jovem Frédéric agora estuda num conservatório local com o maestro Josef Elsner que influenciaria tanto a sua visão de música quanto de mundo. Não demorou que o gênio precoce chegasse à Paris, centro artístico e intelectual do mundo àquela época, causando grande fervor e deslumbramento que muito pouco afetará a sua personalidade.
Uma personalidade tão imensa não poderia passar incólume diante de tantos detratores que, entre tantos despautérios, o acusariam, de excessivo, em seu romantismo, como se o próprio Romantismo não pedisse isso, e de elitista, como se houvesse algum problema em pertencer a uma elite, por causa de sua carreira e sua música se restringirem aos salões e aos bailes. Incapazes de perceberem o óbvio, graças as suas ideologias de ninharia, estes detratores não percebem que, assim como toda a sua obra, tal atitude por parte de Chopin é fruto de sua personalidade aristocrática, de sua elegância espiritual que o fazia desprezar toda frivolidade, grosseria e estupidez muito comuns numa Paris que tanto poderia ser o berço do bom-gosto como o de futilidades. Mas como fazer com que imbecis como Bourdieu e Sontag, e outros tantos que concordam com seus relativismos, entendam o que significa elegância de espírito se um dos melhores sinais desta elegância é refrear seus impulsos exibicionistas, típico de todo idiota narcisista, ao emitirem opiniões sobre assuntos que estão acima de sua competência e compreensão?
Vamos ouvir um pouco de sua "melancolia", quem sabe consolidamos opiniões menos decididas sobre a criatura? Basta clicar aqui para um pouco de Chopin.