Um grande autor: Alexander Kluge
Admiro aqui "O Quinto Ato", lançamento recente da editora Cosacnaify organizado por Jane Almeida e coordenação editorial de Julia Bussius com textos de e sobre Alexander Kluge, participação de Rainer Stollmann, Miriam Hansen e Arlindo Machado. O foco, usando desta palavra tão em voga, me parece ser o bonito trabalho do cineasta e escritor alemão, um dos artífices do novo cinema daquele país.
Ele não se destaca como seus conterrâneos Werner Herzog e Rainer Werner Fassbinder, certamente mais globalizados, usando outro termo nefasto, porém seu trabalho "desvinculado do mercado" é de grande prestígio de forma, escrevamos, local, como citado na introdução do interessante livro.
Um "autor fundamental".
Para apreciar um tantinho, basta um clique e a leitura de trechos e um pouco de sua história está disponível aqui.
O Godard alemão. Este senhor hoje em seus 75 anos é um dos motores da moderna filmografia européia e determinante peso na área da TV, porém multipremiado com Leões de Prata e Ouro, em filmes de cinema.
Com uma interessante distinção em relação a muitos cineastas: Kluge é um excelente moviemaker , mas é grande literato, adicionalmente. Talentoso de fato. O livro contém certo capítulo denominado Onze Histórias, de sua autoria, cuja leitura é absolutamente encantadora. Histórias de cinema: como é feito, como é conduzido e como é apresentado. Fala das máquinas que permitem fazer os filmes na História 3 daquele capítulo de maneira objetiva, discorrendo sobre os princípios de funcionamento com simplicidade singela, permitindo a compreensão da cronologia da evolução desta sólida e consistente arte do século XX, quando tanto se desenvolveu.
A citar casos curiosos, como a viagem a Budapeste dos irmãos Lumiére, inventores dos sistemas iniciais de filmagen; o investimento na locação de salas para apresentação deste dernier crie , na expectativa de um estrondoso sucesso com a apresentação das imagens em movimento e a resposta do público foi... ausência. Pouquíssimos apareceram. Nem mesmo um em cada quatro lugares das salas foi ocupado... Desenvolve o texto com leveza e precisão este autor. Um mestre.
Apresenta o início do cinema como algo que, à época, era tido pela intelectualidade ser de pouco teor edificante e sem futuro (conta, com certo encantamento, o caso de Maximo Górki em parques de diversão na horrorosa Coney Island perto de Nova Iorque e o russo conjecturando sobre a inutilidade daquelas diversões, incluindo as novas "imagens em movimento").
Enfim, um livro que agrada ler, a todos que se divertem e apreciam a magia inegável da TV de qualidade e do cinema menos alinhado à produção gigantesca de lucros possantes e grandes multidões de espectadores. Bela obra discorrendo sobre um sábio do cinema, esse A. Kluge.