"Poesia é o axial"
Por Bernardo Linhares, de Salvador
A cento e oitenta pulsações por minuto, o meu coração retorna ao Sanatório Espanhol, hospital onde nasci em 1960. Ainda na maca, recebo na veia do braço esquerdo um ataque de Ancoron.
Enquanto o enfermeiro me veste numa fralda, a médica coloca em meu braço direito a pulseira azul, do tipo camarote, com meu nome e sobrenome. Indago: onde será a festa? Depois da gargalhada, a Doutora responde:
-" Na UTI."
Entro pela primeira vez numa unidade de tratamento intensivo. Os meus olhos brilham:
Meu Deus! Parece um harém, estou me sentindo no céu.
Arrodeado de enfermeiras, o coração fica mais leve, e os médicos decidem adiar os choques, que depois serão desnecessários. Repentinamente aparece o jovem octogenário Dr. Garrido, patrimônio do Hospital Espanhol; e dos veranistas de Itaparica.
Garridão traz nas mãos um artigo do jornal A Tarde, anterior ao dia da minha arritmia, assinado pelo músico da orquestra sinfônica da UFBA, Tuzé de Abreu, e começa a ler para mim (transcreverei o último parágrafo):
"... conheço esse jornal desde a minha infância. Dentre os muitos colunistas que passaram por aqui, lembro o juiz/compositor Carlos Coqueijo, de saudosa memória, que fez uma canção dos versos de um poeta cujo nome não sei, que termina de maneira belíssima.
Quero citar estes versos finais, lembrando Sílvio Lamenha, outro saudoso colunista desta folha, que muitas vezes terminava a sua coluna dizendo: ´E no mais, poesia é o axial´
Aí vão os versos: ´Quero um punhado de estrelas maduras, quero a doçura do verbo viver´. Dedico-os ao poeta Bernardo Linhares."
As pessoas que me conhecem sabem que eu não contenho as lágrimas, sabem também que não sigo à risca nenhuma dieta, principalmente gastronômica.
Porém, assim como eu, não sabiam que, como o cronista Antonio Maria, eu era um “cardiosplicente”. Mas, quem me avalia tem a certeza que, diferente do Menino Grande, a minha profissão não é a esperança.
Eu escolhi o dom da Dolores Duran:
“Eu adoro amar. Eu preciso amar. Eu amo o amor.”