O invicto Clint Eastwood?
Por Henrique P. Wagner.
Demorou, finalmente Clint Eastwood envelheceu, aos 80 anos de idade. Prova disso é seu longa mais recente a chegar às telas brasileiras. Invictus é, antes de qualquer outra coisa, oportunismo do grande homem de cinema que ressuscitou o faroeste, com seu maravilhoso Os Imperdoáveis (1992). Eastwood filma para o Oscar.
Tanto que não há um ano não produza um filme, e se houvesse duas cerimônias do Oscar por ano, certamente nosso Dirty Harry realizaria dois filmes por ano. Outra prova de que pensa no Oscar está na escolha dos temas para seus trabalhos, sempre apelativos à equipe da Academia de Cinema de Hollywood. Dramas comuns ao homem comum norte-americano, racismo, conflitos políticos entre os Estados Unidos e suas colônias, sempre resolvidos pelo otimismo do diretor.
E se cineasta pensa no Oscar, não pode deixar de ser piegas, para conquistar público bastante rasteiro, que lota as salas de exibição da América.
Invictus talvez seja o mais piegas dos filmes dirigidos por Eastwood. A coisa começou a mostrar sinais que poderia degringolar com a filmagem de As pontes de Madison (1995), baseado num livro muito ruim, escrito por Robert James Whaller, escritor norte-americano. Eastwood se aproximou bastante do romance barato, todavia se saiu bem da enrascada, desfazendo a armadilha em favor, sobretudo, de Meryl Streep, que nunca esteve bonita e desejável senão sob a lente de Eastwood. O filme é de cinematografia vistosa, e é o que há de mais sutil e equilibrado em matéria de desejos, estética e maturidade cinematográfica e humana.
Ainda assim, repito: Eastwood passou a dar mostras sua sensibilidade que poderia ser minada pelo excesso.
Três grandes filmes de Eastwood, todos premiadíssimos, deram ao cineasta o status de grande realizador, definitivamente. Eu me refiro a Sobre crianças e lobos (2003), A troca (2008) e Gran Torino (2008). Entretanto em todos eles há alguma fresta por onde passa o sentimentalismo, seja pelos silêncios excessivos e pelo preciosismo em Sobre Crianças e lobos, seja pela trilha sonora fácil e emotiva, além do excesso de close-ups manipuladores, em A troca, ou maturidade forçada em Gran Torino. Não considero A menina de ouro (2004) grande filme. Hillary Swank é seu grande trunfo e, com justiça, ganhou o Oscar de melhor atriz.
Em Invictus, Clint Eastwood está no auge das lágrimas de crocodilo. Além do pensamento voltado para o Oscar, há certo oportunismo no que diz respeito à copa do mundo de futebol, que no próximo ano será sediada na África do Sul. O roteiro de Anthony Peckham, baseado em livro de John Carlin, é inacreditavelmente ruim, de pobreza que pode ser confundida com minimalismo, porém é pobreza mesmo, falta de talento ou de inspiração. Tudo o mais é campanha contra a segregação racial, magote de frases piegas proferidas por Mandela – coisas do tipo “é preciso perdoar” -, boas atuações de Matt Damon e de Morgan Freeman – que parece, em alguns momentos, ter sido o motivo do filme, presente do amigo Eastwood –, e a sensação de que estamos diante de videoclipe de propaganda do time de rugby predileto da população branca da África do Sul, capitaneado pelo jogador Francois Pienaar (Matt Damon, jamais tão musculoso e dourado).
Como se trata de filme baseado em fatos reais, quem conhece a história do mundo contemporâneo, sabe o final é feliz. Quem não conhece senão o cinema de Eastwood dos últimos dez anos, sabe, do mesmo jeito, o final será feliz. O filme tem 133 minutos e que passam tão rápido quanto propaganda de televisão. Não é muito fácil perceber, por conta disso, a existência de roteiro frágil, ou talvez seja o contrário: o roteiro pobre e perfunctório nos faz relaxar o tempo todo na poltrona, e confesso que senti vontade de assistir ao filme comendo pipoca.
O filme deve agradar àqueles que choraram com a morte de Leonardo DiCaprio no filme Titanic. Para os que não toleram Celine Dion, como eu, Invictus é mais um enlatado americano, pronto para ser consumido.
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