Desjejum impatriótico!
Observando meu café-da-manhã com perdões aos se ofendem, mas das coisas mais abomino é ser patriota. Adiante explico a relação. Sinto até ter desenvolvido quantidade não letal de ódio em relação ao assunto. E me revolto principalmente com os falsos não-patriotas, o que existe; e irrita a mim em profundidade.
Me refiro àqueles detonam “brasileiro é isto”, “é aquilo”, pejorativamente, ou algo como “só nós mesmos” e ao menor endosso de fato o descrito ocorrer, principalmente em sendo o outro estrangeiro, recorre com “mas não é bem assim, olha, você nem brasileiro é para dar opinião”.
Meu pai, imigrante, alertava minha mãe, dizendo: “Somos hóspedes por cá, não comente com ´eles´ os hábitos que não agradam...” e de alguma forma, por isto, jamais se integraram, isolados. Nada agradava, sonhavam com o retorno à pátria e vizinhos que não falassem o exótico derivado do latim, para a nação inclusive deixara de existir na forma como conheciam.
Da minha mãe, a cultuar doentiamente sua germanidad apesar de ter saído dos confins da Europa aos 21 anos, posso seguramente dizer: jamais chegou aqui.
Filho maldoso, provocador, outro dia perguntei a ela se não era o momento, após quase 60 anos por cá, de naturalizar-se.
Verrückt *, detonou, jamais entregarei minha “nacionalidade” alemã por isto...
Isto?
Somos abertos combatentes hipócritas, nós brasileiros, contra a discriminação. Há leis bem rígidas em relação a isto. Barrar alguém por cor ou credo é coisa modernamente suprimimos, se o fazemos é com muito cuidado e discretamente, com subterfúgios complexos típicos da hipocrisia, basta ver como habilmente isolam-se os negros e índios da política maior. Até o grande estado negro como a Bahia praticamente não tem políticos de destaque entre irmãos de cor.
Porém no caso dos estrangeiros, somos abertos na discriminação como Hitler e seguidores com judeus. Não só nós brasileiros; discriminamos mesmo e isto é aceito mundialmente, quase sem ressalvas. Com apoio da lei, em alguns casos até com extremos procedimentos, taxando nos EUA o estrangeiro sem os papéis exigidos de alienígena ilegal e prendendo até a deportação.
Como pode pessoa ser “ilegal”?
Se abdicássemos do primitivo patriotismo a vida no planeta sem dúvida seria simplificada, o ódio atenuar-se-ia. Já começamos um tantinho, com a culinária. Desarmam-se os espíritos com bom repasto, conhecendo a comida do outro. Ou seus filhos menores, suas companheiras e companheiros, seus anciãos, seus hábitos; e mostrem os seus. Adote-se o palatável, aprendam-se as línguas e conviva-se, sem ridicularizar. Tenho certeza ser complexo e difícil discriminar o outro quando se come de sua comida, fala-se ou entende-se algo de sua língua e lhe é permitido sem malucas restrições circular pelo território, que, queiram ou não, é um planeta só.
Chegaremos lá.
O exemplo é a União Européia com tantas línguas e etnias mas livre circulação e domicílio ou trabalho. Talvez resposta aos excessos do século 20 no patriotismo e discriminação assassina a quem pensasse diferente.
A América, cria sofrida da Europa, de Anchorage a Ushuaia com apenas três idiomas determinantes, europeus, tem as condições simplificadas para ser um único sistema sem barreiras, mas nos discriminamos de forma tão completa e brutal, wasps ** à frente, ainda deve demorar algum tempo.
Enquanto isto, vamos exigindo malucos vistos, prenderemos quem procura trabalho e os patriotas dirão: é porque amamos e protegemos nosso país, este apanhado de linhas imaginárias em algum mapa.
Patriotas, são assim.
* maluco.
** white anglosaxon protestants, a maioria branca americana, impermeável a mudanças e essencialmente xenófoba.