Colunas a premiar, simbolicamente
Nesse nosso grande Brasil onde nunca tantos lêem tão pouco jornal como atualmente * (maiores tiragens por volta de 300.000 exemplares/dia), a questão do título deste escrevinhado é desafio me impus: quem escreve melhor, a ponto de atrair o público a comprar jornais?
Não citarei nomes, conclua-se como se achar conveniente, porém a primeira bomba já detono logo de cara: nosso melhor colunista é gringo. Escreve muito bem, em grande jornal paulistano, às segundas-feiras. Não se perde na inútil política pois, ciente do papel de estrangeiro, não futuca os brios. O velho esquema: brasileiros podem falar mal do Brasil, é até opção corrente. Entretanto se gringo falar, aí é ofensa. Da grossa. Além disso, alguns colunistas de política perdem-se em indignações permanentes e uma salada de siglas, que até aos locais torna-se enfadonha.
O cara é bom, conciso e leitura agradável. Vai para o pódio, na elevação central. O segundo melhor, pela criatividade porno-potente repetitiva do escrito, é de jornal concorrente, parece-me que o maior diário da nação. Escreve todos os dias, faz trocadilhos inteligentes e ajusta as palavras de forma engraçada. Termina pingando colírios, como sempre escreve; faz anos. Segundo lugar, merecidamente.
Na área dita “séria”, penso ser senhora carioca de nome teutônico, bonitona, com coluna imensa de escrita impecável merecer o terceiro lugar. Um pouco dextrovolúvel, sem exageros. Discorre com acribia, elegância e é prazeroso ler.
A menção honrosa vai a outro carioca, cineasta; escreve semanalmente, não lembro agora se às terças ou quintas. Boas tiradas, algo prolixo, porém; e a destilar aquilo a classe média leitora com certo halo tucaneiro pensar da atualidade. Concordando com o talento; seu livro com as crônicas é sucesso retumbante.
Há senhor baiano, literato famoso, que escreve aos domingos, mas não me encanta. Perdeu-se no retratar do Zeitgeist brasileiro, está algo redundante. E outro, gaúcho, divertido às vezes, alinhado demais com os chavões burgueses de genros malandros e filhas ingênuas. Admita-se porém excelente chargista, discretamente egocêntrico; com finesse.
O resto, incluindo-se alguns ex-presidentes, almirantes aposentados, ex-ministros, escritores embolorados e políticos em geral são enfadonhos, lúgubres, pessimistas e de tanto negativismus brasilis, desanimam abrir o periódico. Muitos leitores hoje se encantam mais com as cartas de outros leitores, de um dos periódicos de projeção, ignorando as monolíticas colunas acima. O outro diário, o maior, até naquela seção de cartas faz determinado "desmentidolismo oficioso": a torna monótona, lê-se menos.
Certo jornalista, radicado em Londres, resumiu com comentários desairosos como anda nosso jornal-colunismo. Não transcreverei, muitos devem ter lido.
E, de fato, as colunas, como a sustentar o grande edifício jornalista do país, andam desgastadas, manchadas e sem as belas formas do passado. Saudosismo? Sempre.
Mas nós, esses poucos, ainda lemos; somos assim...
* Onde me ocupo durante o dia, há um grupo de aproximadamente 50 pessoas. Penso que só eu o faço regularmente, o tal ler jornais... avanço da Internet? Em parte, mas não só isto.