Lemos muito pouco
Excetuados alguns poucos pacientes leitores, imaginava este fraco escriba que seu maior e melhor apreciador era, claro, ele mesmo. Na dúvida se momento de pensar encerrar o www.hermo.com.br, apesar da imensa alegria que me traz a hora, hora e meia, no final do expediente que furto ao patrão e teclo as abobrinhas, um amigo sugeriu checar as quantidades de leitores.
Como assim, sou mago para ver isto?
Internet... pois é, até isto é possível. Recomendou-me um tal “medidor de sites” e instalado pelo mestre netdesigner Carlos Guena, verifiquei, para surpresa minha, não era bem assim, com até 680 acessos por semana de leitores, curiosos, irritados e indiferentes.
Fiquei contente, pois a alegria do escriba é: eliminado o próprio alguém mais ler.
Modesto, mas penso em termos de língua portuguesa (pouquíssimo se lê apesar dos milhões de falantes), um pequeno alento. Além do prestígio de outros escritores convidados, esta turma deu um gás danado no site, ainda bem.
É fato, lê-se muito pouco em nossa língua.
Começando pelos jornais. Se não me engano o maior jornal paulistano e digamos maior do país, tem 290.000 exemplares diários de tiragem.
Para um país de quase 200 milhões de habitantes...
O Yomiuri Shimbum de Tóquio tem 14.000.000 de exemplares impressos diariamente. E a Argentina, com seus 40 milhões de habitantes tem no Clarin seu maior diário, 300.000 exemplares. Pelo número de habitantes uma penetração bem melhor, diria aqui o leigo.
Por que lemos pouco?
Com perdão a quem se ofender, mas em média os escritos são fracos, jornalísticos à frente. As pessoas se desinteressam. Chatésimos, usando o neologismo, como por exemplo colunistas enfadonhos, sem leveza ou graça, ironia e perspicácia. Insistência exagerada no futebol, excesso de anúncios, escritos que não atingem o público além do terrível “complexo de cocar”, com fascínio pelos assuntos do velho mundo. (Do que também sofro, é terrivel...)
Cito, sem medo de retaliações Emílio Odebrecht, Roger Agnelli, José Sarney, Fernando H. Cardoso, Ferreira Gular e a turma que pelo prestígio se destacam, mas na escrita não encantam. No caso dos primeiros dois desconfio nem serem os redatores.
A própria Academia Brasileira de Letras por algumas razões difusas dá menos valor aos escritores, tendo entre seus membros pessoas reconhecidamente sem qualquer talento literário. Me recordo na Bahia, pelo imposto prestígio, o sinistro Antonio Carlos Magalhães ser membro da Academia de Letras local, com direito a busto no saguão, mesmo vivo. Sua redação era nula, excetuadas cartas ofensivas aos inimigos políticos. Alguns talentosos por lá, conheci um, acabaram recusando convites a membro por este motivo.
A Índia, com quase metade da população analfabeta e renda per capita abaixo da nossa lê mais. Seu jornal, em inglês, The Times of India e impresso em média 1.670.000 por dia, o Dainik Baskar 1.300.000 assim como a Malayla Manorama e seus também 1.300.000, o Hindustan Times 1.000.000 e vários outros fazem dos indianos ávidos leitores. Com excelentes e perspicazes colunistas como verifiquei no que publicam pela Internet em inglês, boas reportagens e assuntos que fixam o leitor.
Entre os 100 maiores jornais do mundo nenhum em língua portuguesa, apesar de sermos dos grandes idiomas do mundo. Nenhum prêmio Nobel de literatura a brasileiros. O maior mercado editorial brasileiro é de livros escolares, o maior comprador o governo... a maior gráfica do país a do Senado, imprimindo às toneladas o que ninguém lê.
Onde trabalho, ninguém lê jornais impressos, excetuados dois rapazes da produção, à procura de novos e melhores empregos, que diariamente vasculham impressos gratuitos como o Metro News, para saber o que mercado oferece...
Lemos pouco, somos assim.
A televisão venceu esta guerra, folgadamente; e por isto tem os melhores redatores. Basta ver como são concisos e bem articulados os temas que se divulgam num Jornal Nacional. E a apoteose: as novelas.
Sendo TV mais barata, a 4 reais um exemplar de jornal nas bancas menos se arrisca com os impressos. Um livro então, nem pensar...