Euclides da Cunha já escrevia
Campanha, 23 de janeiro de 1895
Porchat
Desejo-te saúde e felicidades; cumprimentos a toda a família.
Há dois ou três dias recebi a tua última carta e estimei saber que estás bom assim como toda a família. Creio que breve deixarei esta boa terra – aonde desejaria atravessar a existência toda – porque o Regimento que aqui estava seguiu para São João Del Rei. Não sei para onde irei.
Concordo contigo acerca da má feição dos negócios públicos daí; péssima feição cuja causa essencial está neste fato: não há lugar algum no mundo tão próprio para o sucesso das nulidades atrevidas quanto S. Paulo. Para uma revista pelo mundo político desta terra é observar os tipos mais completos dos mais perfeitos parvenus.
Bem sabes que não preciso fazer uma longa citação de nomes.
Eu lamento o fato; S. Paulo é digno de outros homens, é digno de outro destino.
Escreva-me sempre, todos daqui muito se recomendam aos teus. Aceita um abraço do amigo, obrigado.
Euclides.
Faz muitos anos, pelo visto nada mudou. Vendo aqui a total falta de coordenação dos serviços públicos na questão das enchentes agora em 2010, pela mesma São Paulo, sem planejamento para qualquer próxima temporada de chuvas, apenas a interessar a "grande obra", a "arrecadação", o "emprego público com estabilidade" e a "reeleição", só posso escrever: nada mudou.
A alma humana, principalmente do dito "homem público" não se moderniza.
São sempre assim. Seja senador romano do ano 50 AC ou prefeito brasileiro de 2010.
Nota: Um livro interessante de onde se extrai este texto. "Correspondência de Euclides da Cunha", de Walnice Nogueira e Osvaldo Galotti, Edusp, 1997.