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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Sem educação não há salvação

Por Ildásio Tavares, de Salvador.

Numa de nossas férteis sessões, quando manifestei preocupação com o estado de educação do povo brasileiro, Jairo Gerbase, meu guru, saiu-se com esta frase lapidar: “educação é um processo.” Sim, não podemos esperar que o povo brasileiro amanheça, de repente, com um alto grau de cultura e educação. Mas também, se não tomarmos enérgicas medidas os processos de interação da miséria, do analfabetismo e da ignorância continuarão agindo a céu aberto.

Morei dois anos nos Estados Unidos e pude observar de perto o sistema educacional americano. Posso afirmar, sem sombra de erro, que a pujança deste país se deve em grande parte à qualificação de seus profissionais, através de sua estrutura educacional. Para quem desconhece, todo o ensino fundamental e colegial é, basicamente, gratuito. A universidade é basicamente paga. Digo basicamente porque há universidades públicas gratuitas, mas estas são talvez as de mais difícil acesso e grande nível didático.

Como o ensino secundário. Os colégios são altamente equipados, os professores finamente selecionados e estes colégios fornecem uma base sólida para a ascensão até a universidade, que é feita sem que exista vestibular. Algumas instituições exigem um College Entrance Examination mas, na maioria, o acesso é feito sem vestibular.

Este sistema permite consolidar o processo de ascensão pelo mérito. O aluno não estuda desbragadamente para passar num vestibular; e depois dedicar-se a estudar outras coisas. Ele fortalece seu conhecimento básico que o permite entrar na vida profissional mais cedo, se não almeja a universidade. Depois, todo um processo de qualificação norteia do primeiro grau até o terceiro, alunos e professores têm que mostrar serviço. Isto decorre do sistema do mérito pela evidência do trabalho, oriundo do pensamento protestante. A ética protestante tão bem vista por Max Weber difere na base da apologia da pobreza pregada pela Igreja Católica.

Acresce que a filosofia de ensino implantada durante a ditadura militar tinha nítidas intenções obscurantistas. Os militares desmobilizaram os escalões da cultura voltados para o pensamento e incentivaram o ensino técnico. A idéia era transformar os brasileiros em tarefeiros bem pagos, e a ideologia instilada era a finalidade da vida ser ganhar dinheiro, para ter uma BMW e uma casa com piscina.

Na verdade, da ditadura pra cá, muito pouco tem sido feito para alterar estruturalmente a educação no Brasil, tanto vertical como horizontalmente. A ignorância é o grande motor do consumismo que aquece o sistema capitalista. Consumir para tornar-se importante ainda é a palavra de ordem. Por outro lado, as massa ignorantes são um excelente campo de manobra para o poder político e até para as incursões religiosas.

Talvez por isso, os governos dêem tão pouca importância à educação que, sobre ser o fornecimento de conhecimento, é uma dotação ao ser humano de limites, princípios e valores. Não se pode diminuir a violência, sem equipar o povo de uma correta e sadia educação. Não só adquirindo só valores mas conhecimento, assim o ser humano pode-se encontrar.

E achar uma saída não violenta para a exclusão

1 Não é prioridade de governos o ensino básico no Brasil, nunca foi, jamais será. Assim como na segurança pública convivemos com as deficiências gravíssimas.

2 Nosso eterno paradigma, os EUA, não se preocupam muito com o ensino universitário público. A escola básica para o grande público tem preferência, ampla e gratuita. A universidade é para quem deseja, a escola é obrigação.

3 Por aqui não, a prioridade é a universidade pública, principalmente pelos cargos oferecidos, estáveis, caros. Ilhas de excelência para poucos discentes e menos docentes, consumindo porém o maior orçamento.

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