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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

O desjejum do agricultor

Mundo afora, pela simplicidade direta com a qual trata do cotidiano, ligado a assuntos que aos demais não dizem muito respeito como o tempo, a temperatura, o tipo de solo, a forma como se movimenta um animal, o tamanho dos ovos e a praga no milho, o agricultor é tido como rude, rústico e às vezes um tanto avesso àquilo que os homens mais urbanos denominam bons modos. Folclore, porém. Hoje é uma ciência alimentar 6 bilhões de criaturas.

Talvez após a caça nossa atividade mais antiga, a mais dinâmica, complexa e demandante: plantar, colher e alimentar. Gênio o primeiro sujeito que percebeu das sementes nascerem as plantas e seus frutos e outras sementes, saber escolher as melhores, proteger das intempéries e dos predadores, adubar. Replantar, procurar bons solos, irrigar e hoje manipular de tal forma que algumas maneiras de faze-lo já esbarram na discussão da ética, como o caso dos transgênicos, tóxicos pelo novo núcleo genético que recebem as mudas.

Leio aqui que os americanos, aparentemente campeões mundiais na produção agrícola, têm apenas 2% de sua população economicamente ativa a trabalhar no campo. Mecanização, subvenção, agrotóxicos, cooperativas, boa silagem automatizada e farta clientela, globalizada. Com menos pessoas fazem mais.

Pelo lado do pai e também pela mãe descendo de famílias sempre ligadas à agricultura, em terras distantes. A família paterna possuía um pequeno arrendamento e plantava batatas, alguns hectares de trigo, mantinha 10 vacas leiteiras e assim viveram, completando o orçamento como pedreiros. Pelo lado materno, não muito distante desses citados, eram trabalhadores em uma grande propriedade de plantio de beterraba açucareira, cuidando dos animais de tração, dos arados, dos carroções e dos coches. Uma curiosidade: os proprietários, toda a família, por conta da tuberculose viviam no Egito a procurar cura para o mal no ar seco e quente do Cairo. Ao meu bisavô e um gerente cabia adminstrar o negócio, pelo visto.

Diante disto com o pulo de uma ou duas gerações, um de meus filhos se encanta com a atividade. Estuda para isto. Eu mesmo ensaiei, mas comprada a fazendola na Bahia, toco o assunto à distância, com a ajuda de um dedicado cunhado. Os carrapatos e a lama me fizeram repensar o assunto.

Porém o tema faz, novamente, lembrar da culinária e de um prato servido ao café da manhã do povo do campo, no passado, da distante Alemanha.

O desjejum do agricultor.

Batatas sobradas da véspera, cebola, manteiga, restos de alguma carne ou toucinho e por fim ovos por cima, mexe-se tudo. Vejam ao lado.

Bom apetite!

Clicando sobre as fotos se ampliam.

1 Recriando o Bauernfrühstück, adicionando um pouco de alho-poró, restos de um filé...

2 ... levando tudo a uma boa e pesada frigideira com manteiga...

3 ... sem esquecer da pimenta-do-reino ralada por cima...

4... não necessário, mas gostoso, o toque com tomates picados...

5 ... e os ovos!

6 Depois que bem fritos, misturar tudo com a colher de pau.

7 E vai à mesa, com um bom café preto e pão, se quiser. Dá para gerar energia para um dia no campo, sem problemas.

Comentários (clique para comentar)

- 26/01/2010 (17:01)

Bauernfrüstück a la indienne... muito chique!

julia - 26/01/2010 (16:01)

como na Índia não tem filé (ou qualquer carne da vaca, só no mercado negro), fiz hoje a minha versão "indian farmer semi-veg breakfast": só tomate, cebola, salsinha, cebolinha e ovos. não tinha batata velha, mas vou lembrar de guardar um pouquinho para a próxima! muito bom, belas fotos.

- 26/01/2010 (09:01)

O original é apenas cebola, batatas em rodelas cozidas de véspera, um pouco de toucinho e os ovos. Aos domingos pela manhã pode acompanhar, acredite, um copo de cerveja e pão preto. Mas as variantes são permitidas, inclusive as sul-americanas... Que tal com mandioca cozida de véspera, um pouco de carne do sertão desfiada, cebolas e ovos... desjejum do matuto!

Fábio - 25/01/2010 (17:01)

Adorei. Ótimo pra república. Claro que trocando o filé por alguma carne qualquer... hum... deu água na boca!