Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

A arte

Meu pai, de maneira um tanto tosca, mas sincera, repassava em alemão um ditado de crueldade cabal com esta parte misteriosa de nosso ser, o culto à arte. Não lembro corretamente, entretanto diria ser algo assim:

”Kunst ist das was man nicht kann, wenn man es kann ist es keine Kunst mehr.”

Em tradução sofrível talvez a arte ser aquilo não sabemos fazer, pois se soubéssemos não seria arte. Com sua lógica tedesca, pois o dito “Das ist keine Kunst” (Isso não ser arte) determinar quando a coisa é fácil, corriqueira, simples ou normal de fazer.

Mas voltando ao mistério da arte (isto, com a fala, é o caracteriza certa distância nossa do chamamos de “reino animal”), fico um tanto confuso com a variedade e as variantes daquilo se estimula e produz nesta atividade humana. Plásticas, pictóricas, esculturais, amplas, mínimas, de uso, de adorno, de adoração, cinemática, digital, fotográfica e outras infinitas formas. E se retornamos 10.000 anos no tempo, em tumba do homem da época, haverá de ser encontrado algo, seja do desenho de alguma tatuagem ao formato do cabo de uma primitiva arma.

Inicialmente me parece surge o retratar para a lembrança. Pinturas de animais em cavernas. Impressão das mãos e lanças, multiplicando-as. Depois o imaginário, aumentando o rebanho desenhado, além da realidade. Fazendo-os animais maiores, desejando a boa caça.

Séculos se passaram, a arte refinou-se, tornou-se o grande extergente de nossas angústias, nos permitindo vagar pelo que não conhecemos, somente imaginamos. O teto da Capela Cistina em Roma é a tênue prova, onde Michelangelo retrata aquilo não sabemos, não conhecemos, imaginamos, inventamos. Salvador Dali vai adiante com seus relógios escorrendo como pastas, mostrando o passar do tempo. A fotografia expulsa o artista simples, retratador.

Todavia no século XX a arte foge para o diria ser além da imaginação: o incompreensível. Em parte até jocoso, como o tal “Pissoir” de Duchamp, em sujo mictório invertido, dizendo ser arte. Ou a banheira para crianças pequenas do complicado alemão Beyus, com gaze envolta nos pés.

Stand up art, coisa de instantes na criação, a virar curioso objeto de culto, mas ao sentimento puro do humano comum menos detona.

Não quero aqui resvalar para a crítica, pois os conhecimentos são minguados, entretanto a tal arte requer em tempos de século XX e XXI alguma sensibilidade a mais, sinto me (talvez a outros também) foge. Tornou-se certo sistema estanque, a arte é para quem entende. A própria literatura com obras prestigiadas (e pouco lidas, que tal Ulisses de Joyce?) torna-se parte do incompreensível. Despreza-se aos demais, pouco se apresenta ao público, excetuada a arte cinematográfica, teatral e arquitetônica, onde o público é da essência do entendimento (e paga...).

Mas a escultura, a pintura, a fotografia para a massa apreciadora é de diminuta apreciação. Exaurimos a arte?

Não sei.

O mictório de Marcel Duchamp. A arte torna-se subjetiva em excesso?

Josef Beyus, com sua singular dedicação ao menos compreendido. A nova atração da arte seria a incompreensão?

Certa recriação da obra de Beyus, o tal "Fettecke", Canto de Sebo, detalhe acima da cabeça esculpida.

Minha contribuição, nesta escala... discutível.

O imaginário, o desejado. Pintura na abóbada da Cistina em Roma, por volta de 1481. Deus estende a mão a Adão... ou?

Pintura de 37.000 anos atrás em Lascaux, na França. O traço é soberbo, firme. Enfim, artístico.

Comentários (clique para comentar)

- 20/12/2009 (13:12)

Causando... provocando. Outro dia vi uma série de fotos das obras do Cristhós, o búlgaro que embrulha estátuas imensas e prédios públicos. Não é interessante, bobo até. Mas arte. Não entendo.

- 18/12/2009 (17:12)

só causando, heim, hermó.