Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Escravatura livre

Por Ildásio Tavares, de Salvador

"Lucas 14:23: E o senhor disse ao seu criado, vai pelos caminhos e pelos cercados e obrigue-os a entrar para que a casa fique cheia."

O cristianismo nasce como uma religião perseguida. Os romanos não viam com bons olhos aqueles que que preferiam morrer a abjurar sua fé. Nero trucidou os cristãos, pelo incêndio de Roma. Todavia, no século V, Constantino começa a romanizar o cristianismo. Mas seria um africano, Agostinho de Hipona, o autor da teoria de uma sociedade cristã total, compulsória. Cartaginês, com formação maniqueísta e uma juventude dissoluta. Agostinho de Hipona firmou sua visão africana de severidade, intolerância, audácia, fé profunda e um curioso nacionalismo cristão, opondo-se ao universalismo romano. Se a Igreja é mãe de todos, ninguém pode ficar fora. E dizia.:

É o senhor que faz as esposas se sujeitarem a seus maridos. O Senhor: estabelece os maridos acima de suas esposas; une os filhos a seus pais por uma escravatura livre e coloca os pais acima dos filhos por uma dominação piedosa.

É a plena expressão do pensamento totalitário da Igreja, pelo mesmo Agostinho que desenvolveu os princípios teóricos da violência religiosa cuja vigência dura séculos, dos judeus na fogueira da Inquisição aos conflitos entre protestantes e católicos, até chegar à catequese a ferro e fogo, a demolição de pirâmides astecas para fazer igrejas e, recentemente, a perseguição ao candomblé.

Escravatura Livre. Dominação piedosa. Beleza...

E como Agostinho era piedoso. Ele era contra a tortura por fogo... nem cortando sua carne com garras de ferro. Mas batendo com varas...

O que importava era tirar o pecador das mãos de Satanás e reconduzi-lo ao seio da Santa Madre Igreja, e, se preciso, trucidar seu corpo para salvar sua alma. Durante a escravidão no Brasil, a Igreja apoiou abertamente os castigos corporais e a tortura dos negros, dentro dos princípios salutares do africano Agostinho de Hipona.

Os negros continuam a sofrer. Até quando? Depois de séculos de uma hedionda escravização; depois de anos de perseguição policial, um deputado ateu e comunista, um dos maiores brasileiros a nascer em nosso solo, implantou, como constituinte por São Paulo, em 1946, a liberdade religiosa, Jorge Amado.

Obá Arolu.

Que Oxosse o tenha em suas gloriosas caçada nas campinas do Orum. Mas tomara que seus esforços não tenham sido baldados.

Surge uma nova escalada de intolerância religiosa, recrudescem o ódio, a violência, as agressões, com base na exclusão religiosa que, há mais de dois mil anos, implantou a tortura e o rancor através de uma religião doce como a cristã, toda baseada no amor, na caridade e no perdão. Acima de tudo, a discriminação religiosa fere os princípios basilares da democracia, que prescreve direitos iguais para todos e sacraliza o respeito pelo Outro. O governo brasileiro não pode fazer vistas grossas face ao poder econômico disfarçado em religião. Cabe a ele a defesa da Constituição e não prostituí-la pelos 30 dinheiros em votos evangélicos.

Romildo Soares, cunhado de Edir Macedo, colegas do ramo. O "Fast-fé", pague e ouça o que Deus tem a dizer...

O campeão dos campeões, multiplicou o império mundo afora, tem bancada no congresso. Edir Macedo, a religião como mercadoria.

A prática é antiga, vem dos pregadores do velho oeste, com seus seguidores até hoje. Um mestre da atualidade foi Billy Graham, com forte influência política.

Santo Agostinho, pensamento obtuso e machista, não deveria mais ser ventilado a aplicações de sua filosofia religiosa.

Comentários (clique para comentar)

- 14/12/2009 (14:12)

Este seu Sto Agostinho parece o Lula...

- 14/12/2009 (13:12)

Billie Graham tropeçou nas fraquezas da carne, enganou a esposa por muitos anos. Pediu desculpas em público, mas perdeu total credibilidade. Aqui a infidelidade não é tema, machismo latino faz disto até um artigo de fé...

Ildásio Tavares - 14/12/2009 (13:12)

Artigo muito bem editado, Thomas. A decupagem facilita a leitura e enfatiza os pontos principais. Palavra do autor