Schopenhauer, Augusto dos Anjos e o mosquito da dengue
Por Bernardo Linhares, de Salvador.
Porto da Barra. Sanatório Espanhol. Rangem os caninos, queima a garganta. A língua está morta. Meus olhos quedos e úmidos parecem admirar um túmulo. Desencadeados, os sinos da face emitem gritos que desembocam no labirinto e ecoam no meu crânio. A febre inferniza, eu não aceito a dor.
A cada espirro, um tiro aflige meus lábios. Vejo Caravaggio, o pescoço entorta, quase não respiro. Rezo pro Augusto, já nem conto as sílabas... minha inspiração estertora-se.
Mantendo o espírito, a morte se diverte:
- É tarde. Quem te espera no purgatório é Schopenhauer.
Assustado, abro os braços, ensaio um sorriso, e, sem urubus nem moscas, apenas um mosquito, ergo-me, náusea sem vômito.
Porém, meus pés, pássaros molhados, tremem mais que as asas do maldito que não rachou a conta. Melhor chamar a médica. Definitivamente, o álcool no sangue não é repelente. É a pena pra quem pensa que é poeta.