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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Schopenhauer, Augusto dos Anjos e o mosquito da dengue

Por Bernardo Linhares, de Salvador.

Porto da Barra. Sanatório Espanhol. Rangem os caninos, queima a garganta. A língua está morta. Meus olhos quedos e úmidos parecem admirar um túmulo. Desencadeados, os sinos da face emitem gritos que desembocam no labirinto e ecoam no meu crânio. A febre inferniza, eu não aceito a dor.

A cada espirro, um tiro aflige meus lábios. Vejo Caravaggio, o pescoço entorta, quase não respiro. Rezo pro Augusto, já nem conto as sílabas... minha inspiração estertora-se.

Mantendo o espírito, a morte se diverte:

- É tarde. Quem te espera no purgatório é Schopenhauer.

Assustado, abro os braços, ensaio um sorriso, e, sem urubus nem moscas, apenas um mosquito, ergo-me, náusea sem vômito.

Porém, meus pés, pássaros molhados, tremem mais que as asas do maldito que não rachou a conta. Melhor chamar a médica. Definitivamente, o álcool no sangue não é repelente. É a pena pra quem pensa que é poeta.

Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de Fevereiro 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro 1860) foi um filósofo alemão do século XIX da corrente irracionalista. Sua obra principal é O mundo como vontade e representação.

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Sapé, 20 de abril de 1884 — Leopoldina, 12 de novembro de 1914) foi um poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano.

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