Doidos ao mar
O livro do Peter Nichols, “Uma viagem para loucos”, Editora Objetiva, 2002, para quem gosta de aventuras (e de malucos), é prato completo, pleno. Fascinante; infelizmente a tradução “náutica” ficou um tanto quanto truncada. Há erros de conversão nas milhas para quilômetros, e algumas explicações de rodapé mostram-se falhas.
Traduções menos especializadas acabam criando até o enfado no leitor, pois ficam confusas. Porém é boa leitura; sugeriria comprar e ler, se alguém ligasse para minhas recomendações...
Reclamos à parte, fiquei encantado com a leitura, pois normalmente os livros sobre mar, assim como o próprio, após certo fascínio inicial são um pouco monótonos. Com algumas exceções, e cito de cabeça a literatura de Joseph Conrad, James Mitchener, do insubstituível e melhor de todos Ernest Hemingway com seu o O Velho e o Mar e do repórter de excelente escrita Sebastian Junger (a Tempestada Perfeita, lembram?). As demais são bem tediosas, incluindo nosso Amyr Klink o qual, muito seguro em suas navegadas, não se expõe aos riscos. Esses que seriam, exagerando, o tempero da escrita.
Nichols descreve a primeira regata de volta ao mundo, promovida por jornal inglês, para navegadores solitários e com um detalhe: sem escalas permitidas ou receber suprimentos de qualquer natureza.
Imaginando que somente grandes navegadores arriscariam, o autor mostra na verdade ser apenas um bando de malucos e deprimidos, com barcos em estado calamitoso irem ao desafio, por 5.000 libras de prêmio e algum prestígio.
Em 1968, às vésperas do homem ir à Lua, esses doidos saíram para 290 dias no mar, como nos tempos de Magalhães. Endoidaram, menos o ganhador, depois “Sir” Robin Knox-Johnson.
Alguns com finalizações da regata que não adiantarei, pois tiraria o “flair” da reportagem toda.
Mas vale a pena ler, a remover o estigma de intrépidos e infalíveis aventureiros do mar, mostrando serem uns sujeitos, bem, bastante desajustados.
Até no mar, somos assim.