Bons, muito bons ou boa enganação?
Fenômeno estranho: ao ficar olhando pela janela do banheiro, para leste, ver passar ontem a tal Space Station (por sinal lindo, e caro, espetáculo), pensei em culinária e bebidas. Coisa tanto gosto, acho que a ponto de se tornar minha ocupação predileta aos fins de semana.
Imaginei matar a charada da livre associação, como se diz: Space Station me recordou restaurantes finos; e agências espaciais. Ambos têm muitos funcionários, tudo é muito bonito e caro mas o resultado sempre deixa a desejar.
E o exemplo, associado, foi o Skylab; este, anos atrás, sem mais uso entrou para a atmosfera, a desintegrar-se próximo de João Pessoa.
Certo repórter de TV foi para a capital paraibana, colher as opiniões dos locais sobre possível impacto. Que não houve, pois pelo entendido, o troço entraria com mais de 20.000 km/h na cobertura gasosa do nosso planeta e tal qual meteoros, queima todo ou quase. Talvez algo tenha despencado no mar, porém nada se viu ou ouviu. Passado o fenômeno, em bar de hotel entrevistaram o sujeito preparando uns drinques exóticos, muito criativos.
Entre eles, um tal “Escailábi”.
Mistura terrível: Angostura com suco de abacaxi, rum, açúcar, leite condensado e aquele horripilante licor azul, Blue Curaçao. Bem batido, copo alto, gelado; o repórter fez cara de elogios, sem convencer.
Por que Skylab? O simpático paraibano explicou: “É pesado, mas desce bem, sem machucar...”
Quando ontem imaginei as toneladas de dólares gastos para manter a estrelinha artificial e seus poucos tripulantes curiosamente cruzando nosso céu paulistano, ficou claro os programas espaciais tripulados para pouco servem, a não ser o prestígio político e muito emprego. Assim como restaurantes estrelados. Poucos vão.
O homem foi à lua e ficou por isto mesmo. Marte já estamos, digamos, “enrolando”, não vemos muito a fazer, pessoalmente, por lá.
O resto é tão distante, ou quente, nem cogitamos. Fica para as máquinas. Então a imensa burocracia estatal cuida dos programas espaciais locais, orbitando; e os empregos são garantidos. Idem por aqui, já que em 25 anos não colocamos nada em órbita, porém há muita gente com bons empregos na tal agência.
Não por menos, o antecessor do atual chefe da agência, hoje na Infraero, é engenheiro. Excelente, não seria? Especialidade: nenhuma. Foi secretário da fazenda da Bahia... Adora planejamento e impostos, "ideal" para tocar uma agência espacial e seus muitos empregos.
Conheci o sujeito, anos atrás. Sua diversão à época era atrasar com algumas picuinhas fiscais a instalação da primeira loja de sanduíches rápidos de grande rede gringa em Salvador. Aquele governo era dito de esquerda, portanto o capitalismo selvagem havia de ser contido, até em seus símbolos. Contrariando as diretrizes políticas, a transportadora, brasileiríssima, levava desavisadamente os materiais para Salvador quando em vista da má vontade surgida, corrompeu o fiscal na fronteira entre estados, a liberar o material retido; e tudo abriu a tempo.
Apreciei a cena curiosa, quando rindo discorreram sobre o assunto, em giro pelo interior da Bahia. O governador bebericando, com seus secretários à volta, divertindo-se com o caso contado. Certo secretário, sujeito formidável, o da cultura, totalmente bêbado roncava alto a sono solto em uma rede, na mesma varanda, dando olés na hierarquia respeitosa.
Era José Carlos Capinam, o grande compositor. Talvez tivesse provado alguns tipos de “Escailábis” a mais...Pelo visto política o interessava menos.
Somos assim, nós os apreciadores de drinques.