Aprendendo a ler, de novo
Por Julia Bussius, de Gurgaon, Índia
Como alguns de vocês sabem, estamos tentando aprender hindi por aqui. A estranheza da língua é equivalente ao japonês, chinês, russo, enfim… idiomas com os quais não tenho a menor familiaridade. Mas como podemos nos virar bem usando o inglês (em Delhi, a maioria fala o básico), o aprendizado acaba ficando meio lento e o uso se restringe a algumas palavras enfiadas no meio de frases, tipo “price kia hai?” (qual o preço?), ou sentenças chaves como “me bevekuv nahi hoon!” (eu não sou idiota!) – essa fundamental para não ser enganado na hora de fazer algum pagamento. Além do mundialmente famoso “namastê” ou “namaskar”.
O mais divertido nas aulas, contudo, é aprender a ler em hindi. Uma segunda alfabetização, sem dúvida. O sentimento de, pela segunda vez, descobrir que som tem cada símbolo e depois começar a formar palavras com eles, é bárbaro. Esquecemos como é ter que realmente “pensar” para ler e para escrever, pois tudo sai tão automático. E eis que me pego de novo juntando c + a, para dar “ca”, e depois sacar que “casa” começa com “ca”, do mesmo jeito que “ca”valo, e por aí vai.
Na primeira aula me senti totalmente impotente. Eu olhava para aqueles desenhos e eles não me diziam nada. Para reproduzí-los, outra dificuldade, saíram garranchos, traços feiosos e bem longe do modelo a seguir. Mas aos poucos está melhorando, já decorei alguns caracteres e fico caçando a eles pelas ruas, tentando decifrar esse novo código. A maior alegria foi conseguir encontrar o nome de uma cidade, na viagem que fizemos esse final de semana, numa placa escrita apenas em hindi. Fomos atrás dos sinais conhecidos e… pimba! Com duas letrinhas familiares, encontramos a dita cuja.
Bahut acha (muito bom!)!
E assim me dei conta, pela segunda vez, de que aprender a ler dá uma sensação mágica, um estalo maravilhoso que nos possibilita fazer parte de um sistema; e quem sabe ser – pelo menos um pouquinho – mais livre nesse mundo.