Tal pai, tal filho... uma ova!
Vejo hoje foto no jornal de George W. Bush, tentando por gestos vazios e palavras miúdas, convencer alguns empresários americanos, mirando porém no grande público, ser necessário dar continuidade a aventura iraquiana, uma carnificina desnecessária. Pensei cá comigo: seria outra a origem deste seu atual descrédito?
Georgie boy hoje em dia é chamado por lá de lame duck (pato manco), ou seja: não decola mais, seu prestígio sempre minguado já é decadente, nulo enfim. Democraticamente o planeta, e 70% dos americanos, declararam-no um fraco ou péssimo presidente. Quase a repetir caminhos de Nixon, o qual, reeleito, resistia ao fim da guerra do Vietnã.
Mas isto todos sabem.
O genial S. Freud, aposto, gostaria de observar com afinco a questão dos Georges; o pai G. Herbert e o filho G. Walker. Talvez o conflito progenitor-rebento, este revisto e revisado por tantos autores, analistas e estudiosos pudesse ser melhor esclarecido, se o mestre analisasse o caso em curso.
É questão que atinge a nós todos, saibam aqueles que lêem e detonam “nenhum-problema-com-isto”. Somos todos filhos de pais homens, sem exceção. Todos passamos pelo conflito, alguns o negociam com facilidade, outros penso levam a questão para guerras e massacres.
Ou suicídios, negligência e criminalidade...
Freud, em determinada instância, informa que analisando o que ouvira de seus pacientes e do que era descrito até em livros, como a poderosa obra de Paul Schreber e sua questão terrível com o pai incoerente e autoritário, poder-se-ia concluir sobre a impossibilidade de superar o pai, psiquicamente. Analisa seu próprio assunto; e deixa claro ele também ter passado por aquilo a admitir, mesmo sendo criador da psicanálise, grande escritor , enfim grande personalidade, jamais superar o pai.
George filho tentou e talvez em algum instante tenha afirmado a si, esta impossível vitória. Quando o pai, na modesta Guerra do Golfo segura a questão regional, empurrando Saddam Hussein de volta e livrando o riquíssimo Kuwait de um problema, mostra certa habilidade pós-diplomática, limitando a ação. Ex-chefe da CIA, embaixador na China, vice-presidente e presidente, além de herói de guerra, o que para os gringos é uma estrela na coroa a brilhar com força. Estes pontos fizeram de George Bush pai um insosso, porém adequado presidente, que, não marchando até Bagdá, como muitos achavam deveria ter feito, lhe custou a reeleição. Mas deixou o planeta em paz. Louvável, saber parar.
Não se resolveu, porém, o conflito pai-filho. A ausência de barreira interna do jovem cria atos malucos, detonados pela administração americana, como o ridículo pouso em um porta-aviões perto de San Diego e o G.W. subindo ao pódio, para anunciar que a missão havia sido terminada com sucesso.
A guerra recrudesceu, a partir de então. A meta malogrou. O filho tentou ser maior herói de guerra como comandante supremo (quando antes conseguiu safar-se até de ir ao Vietnã, a naturalmente rejeitar o heroísmo do velho) e terminar aquilo o pai havia “deixado de fazer”. Sua paranóia e consequente atual descrédito com falta de prestígio decorre, penso amadoristicamente, do inconsciente desejo de, de fato, pensar sobrepujar este pai. E suscedem-se os atos incompreensíveis.
Não como a maioria de nós, mesmo de fato tendo superado em alguns ou muitos casos, não poder admití-lo, a manter-se sanidade. São casos comuns, vejam:
É um grande escritor, em conto, descrever o pai, matuto e simples, como o “maior caçador que conheceu, além de melhor contador de casos”. Atesta, declara e endossa a superioridade do pai. O mega-empresário que decuplica o tamanho da empresa, mas deixa claro ser o grande mérito dos fundadores, o pai e o tio. É o doutor em filosofia a tudo abandonar, afundar nas vicissitudes da vida, alcoolizar-se, pois imaginando ter superado o pai, procura em desespero remontar a imagem deste, mostrando-se um continuado perdedor.
Uma outra forma de colocar o pai, como o ser insuperável. É aquele que, abandonado com irmãos pelo pai namorador, batalha pela posição de “super-pai” a tornar-se presidente de toda uma nação. Mas aventura-se pela vida pregressa com questões amorosas, infidelidade e até filha ilegítima. Igual, ou até pior que o pai...
Somos assim, insuperáveis.