Minha nobre colega Dilma
Por Ildásio Tavares, de Salvador
Quando soube que a onipotente Dilma Roussef tinha pertencido à Luta Armada fiquei entre esperançoso e aflito. Mais ainda, a gigantesca Dilma tinha pertencido à mesma organização que eu, a saber, a VAR-Palmares, guardadas as devidas proporções entre a tortura do Centro-Sul e a do Nordeste, a nossa tem muito menos mídia e, portanto, dói muito menos aos olhos do Brasil que vem gratificando terroristas sulinos regiamente, como é o caso do José Dirceu.
Alíás, a norma de boa ação recompensa, má ação castiga, elementar em qualquer sistema moral, tem sido revertida na administração que pretende eleger minha nobre colega Dilma presidenta (ou presidente mesmo) da nação. Ela estufa o peito e proclama as verdades éticas que são, em primeiro lugar os interesses do PT e, em segundo, tudo que puder propugnar sua eleição, que jamais será uma saia justa para ela, porque, apesar da plástica, ainda está um pouco gordinha.
O esperançoso caiu. Sobrou o aflito. Apesar do resquício de idealismo que deveria animar uma competente guerrilheira, minha nobre colega Dilma estava tratando a Operação Brasil muito pior do que o cofre de Ademar de Barros, abarrotado de dólares, que ela planejou expropriar e que ninguém sabe onde foi parar. O Brasil virou um caso de partido; um caso de autoritarismo e a problemática sócio-econômica do Brasil poderia ser resolvida com uma simples operação plástica, que até poderia garantir a entrada de Dilma no Museu de Cera de Madame Trussaud, mas em nada alterou seu temperamento abrupto.
Ao contrário do que pensam os leigos, nós da Luta Armada não passávamos a maior parte do tempo em ações de guerrilha. Passávamos muito tempo lendo material logístico, estratégico e doutrinário. Lembro-me de que lemos em castelhano livros fundamentais de Mao-Tsé-Tung, Lucha contra el imperialismo japonês, livro em que aprendi a importância de uma frente única amalgamando facções em um largo espectro da esquerda para a direita, a fim de conquistar o poder. Ao chegar no poder, a esquerda se estruturaria. Poucas vezes este exemplo foi seguido no Brasil.
E quando funcionou veio seguido de uma ansiosa luta pela afirmação hegemônica de um só partido e pela sede de cargos.
Líamos e discutíamos muito em nossas reuniões de Luta Armada. E discutíamos muitos problemas éticos. Nosso fim era a derrubada do regime militar e subjacente estava o princípio de que os fins justificam os meios. Mas não era só assim. Discutíamos, por exemplo, se a morte de civis inocentes por explosivos ao executarmos um torturador deveria ser creditada ao bem da pátria. As opiniões se dividiam.
Certa noite, eu fiquei no carro aguardando os outros numa operação com Tucha, um companheiro e uma luz se aproximou. Era um guarda-noturno com a lanterna. Atirador de elite, engatilhei o rifle. Tucha, tremendo, disse “não atire” . Eu teria que atirar pela salvação de todos. Mas estes voltaram a tempo e chispamos no fusquinha.
Acho que, acima de tudo, a nobre colega Dilma deve rever suas posições políticas à luz de uma nova ética.
A Luta Armada já passou.