Você já esteve em Calcutá?
Por Julia Bussius
Nós acabamos de chegar. A cidade tem algo de intrigante: algumas das pessoas mais adoráveis que se conhece da Índia vieram ou eram residentes daqui. A região de West Bengal como um todo, cuja capital é Calcutá (ou Kolkata, em bengali), parece ser um solo frutífero para produzir intelectuais e pessoas que fizeram uma diferença no mundo. Tagore, Madre Teresa, Amartya Sen, entre muitos outros, são um exemplo disso.
Chegamos aqui na terça à noite, por volta das 23 horas. O aeroporto é muito mais simples que o de Delhi (renovado recentemente), mas a temperatura é um alívio: “apenas” 31 graus. E úmido! Como é bom sentir essa umidade, que nos faz lembrar a chegada em Salvador, Bahia, quando saltamos do avião gelado para aquele ar gostoso e morno, que gruda logo na pele.
A população do pequeno aeroporto chama à atenção em um aspecto: muitos parecem bastante ocidentalizados. As mulheres, sobretudo, o que é difícil de se ver por aqui. Logo lembramos de um dado, que os bengalis são os grandes emigrantes da Índia. Por sua região ser muito pobre, muitos acabam se mudando para os Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e outros países de língua inglesa. Talvez as pessoas no aeroporto sejam um reflexo disso, são NRI (non resident indians) voltando para visitar suas famílias na terra natal. Especulações, claro. Mas é incrível como em poucos minutos num saguão de espera podemos ver tantas coisas diferentes e criar mil relações na nossa cabeça.
Pegamos um táxi Ambassador (o carro mais típico da Índia) amarelo – a minha primeira corrida no veículo –, que bem poderia ser um riquixá, tanto pelo barulho como a sensação quando estamos dentro dele, mas é um carro, tem quatro portas, meio fechadas. O motorista dirige como um louco. Para em um farol, abre a porta e começa a bater alguma coisa na mão, que não conseguimos compreender. Vibhav, colega do Luis que viaja conosco, explica que ele está preparando o tabaco. No caminho para o hotel vemos que Calcutá tem algo muito diferente de Delhi: aqui há um sentimento de cidade. As ruas são menores, existem calçadas, lojinhas, coisas de cidade. Parece até ser possível caminhar por aqui! Mas, vejamos o que nos aguarda à luz do dia. Todos nos alertam que o caos é como em poucos lugares do mundo e um dos maiores da Índia. Não podemos ser sensitivos à sujeira ou aos pedintes, à miséria e ao turbilhão de gente. É preciso sentir Calcutá a fundo, no meio de tudo isso.
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Fotos: Julia Bussius/ Luis Barbieri, 2009
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