Livros ruins
Doze anos atrás, depois de uns goles e olhando para noutebuque novinho comprado, mas pouco usado, achei que o provérbio, bem idiota por sinal, do homem dever ter filhos, plantar uma árvore e escrever um livro, ser a nova meta.
Os filhos: já havia sido resolvido. Com primor, modéstia à parte. A árvore idem, algumas até; e melhor: preservando muitas, numa roça comprada anos antes na bela Bahia. Faltava o livro. Determinado catálogo sobre equipamentos industriais já havia elaborado, porém livro? Destes de verdade? Não.
Pus-me a laborar. Lembrei de casos ouvidos e inventados; e de meu fascínio por crônicas com “gioco”, alegres. Encaixava-se, seria tentativa para solucionar a parte três do dito dito. Lá foi, em mês e meio, no sistema similar àqueles sujeitos os quais antigamente nas ruas tocavam sanfona, tinham grande bumbo às costas, gaita à boca e os pratos de bateria sobre a cabeça. “Einmankapelle” dizem os godos, banda-de-um-homem-só.
Escrevi, revisei, diagramei naquela maravilha de simplicidade que era o Pagemaker, fiz a capa usando foto (se disser a origem seria incriminador) , mandei à gráfica, repassei as cópias heliográficas em “boneco” e pedi imprimir 500 exemplares. Até ousei lançamento, modesto, apenas para os amigos e sem cobrar, pois não imaginei seria obra, escrevamos, vendável...
Descobri distribuidor, na General Jardim. Entreguei a ele 200 exemplares. Deu-me vil golpe, o sacana, quando insistia em saber quantos havia vendido. Nenhum, afirmava. Depois de tempos pedi a devolução, faria eu mesmo. Disse ser impossível, estava nas livrarias. Fui em certa sabia a eles forneciam livros. Haviam vendido... era e continuo principiante neste troço.
Os demais dei de presente ou como brinde. E por estas questões nunca entendidas, acabei com apenas um único exemplar à mão, que, imaginem, pedi recomprar num sebo. Como nem o distribuidor, nem as livrarias solicitaram reposição de estoque, confidenciei a mim mesmo o livro ser, de fato, com mil perdões, grande bosta. O título já era pouco promissor: “O bizarro cotidiano sensual”. Ora...
Existem muitos livros assim, foi o consolo.
Minha alegria, porém, anos após em 2001, foi ver não era mundo tão solitário, o dos escritores bons e ruins, com seu péssimos livros. Sim, há escritores excelentes; entretanto escreveram coisas horríveis, enfadonhas. Entre eles quem resolveu apoiar-se na porcaria escrita por mim, para detonar outra, sem ofensas, tantinho maior. Com o mesmo sucesso: modesto.
Futucando os lançamentos naquele ano, em livraria de aeroporto descobri “Secreções, excreções e desatinos” do Rubem Fonseca. Até a capa horrorosa da minha “obra” virou algo pior naquele livreto do mestre, com umas histórias, modéstia à parte, bem pouco criativas. Também, quem manda procurar inspiração na lama da literatura...
Discorri sobre certo colecionador de fotos ginecológicas, mestre Rubem fez interessante alegoria com alguém a estudar fezes, num capitulo denominado Copromancia a lastrear-se em outro meu, onde descreve-se certo amor coprofágico. Mistura sem sabores; e mostrou apenas ambos os livros, do grande escritor e do escrivinhador serem, de fato, muito ruins.
Somos assim.