Batata suíça
Há coisas que não conhecia, aprendo mais velho.
Barraquinha de São João a vender “batata suíça”. Tomando umas e outras, umas fortes e outras fracas, com amigos da terceira idade em um dos bonitos locais de São Paulo (sem ironia, é bonito mesmo), observei o lento montar do estande. Moças diligentes e bem fortes, aparentando robustas crias do Partido dos Trabalhadores, me pareceu; pelos trajes. Em fervor, diria, soviético. Uniformizadas de vermelho socialista com azul de Genova das calças de trabalho dos gringos, erigindo o local de vendas da dita batata.
O que seria?
Próximo e curioso, mentindo ser o fotógrafo da revista do bairro, perguntei detalhes. Explicaram ser uma batata ralada, frita e com recheios, desde queijos a tomates secos, prato típico da sagaz republiqueta alpina. Não pude provar, o sistema ainda não operava, a ocorrer somente com o cair da noite e a chegada do São João.
Fiz a foto para a “revista” e fiquei pensando em pratos típicos suíços.
Na verdade prensada entre a odiada Alemanha, os pouco simpáticos franceses e os menos confiáveis italianos, desprezando os austríacos, aquele país tem uma forma peculiar de cozinha. A batata suíça existe, chamam-na Rösti, com centenas de preparos, deliciosos. Dizem as más línguas tratar-se de modo, escrevamos, exuberante de esconder batatas em mau estado, ralando-as e fritando.
Produzem também bons queijos, com a invenção do século na arte da “fromagerie”, os buracos nos ditos cujos. Mesmo volume, menos queijo. Quase como o papel higiênico, cujo rolo central de papelão tem o diâmetro aumentado ano a ano.
São as três grandes invenções suíças, dizem os italianos: os relógios precisos, as contas secretas e os buracos nos queijos. Mas um queijo suíço, seja greyerzer ou emmentaler é imbatível.
Dizem as más línguas, novamente, que o delicioso fondue é forma econômica dos descendentes de Guilherme Tell aproveitarem os restos e cascas de queijo mofadas, derretendo o troço todo e comendo com pão velho. Maldade francesa, é claro.
Por fim, nossa forte ligação com os suíços parte de dois interessantes, usando deste neologismo modernoso, links: culinária e serviços bancários.
Gente fina que se preza por aqui, principalmente com morada em Brasília, prefere o sistema bancário daquele país. Discreto, poucas perguntas sobre a origem dos valores. Com seu preço, claro, pagando juros anuais que aqui são diários para alguns credores. Mas menos suscetíveis os valores a confiscos ou perseguições fiscais, um ou outro ex-governador que o diga, apesar das tentativas.
Quanto à culinária, pois é: até em festa junina a presença discreta com influência alpina, a “batata suíça”...
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Fotos cortesia R. Quartim