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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

... ? Parte 5

Continuação

Em "A instância da letra no inconsciente ou o método a partir de Freud", ou melhor, "A instância da letra no inconsciente e a evidência a partir de Freud", Lacan comenta a fórmula cartesiana, "Penso, logo existo" (Cogito, ergo sum) dizendo tratar-se da afirmação existencial do sujeito da ciência e opondo-a à fórmula freudiana da afirmação existencial do sujeito do inconsciente "Lá onde isso era, eu devo advir" (Wo es war, soll ich werden). Isso quer dizer que a metapsicologia de Freud "Penso, onde não sou", opõe-se radicalmente à metafísica de Descartes "Penso, onde sou".

Tal como o Discurso do Método de Descartes, o Discurso do Método de Freud constituiu-se numa ciência nova, no anúncio de uma Umschwung, uma verdadeira revolução intelectual, que implicaria em uma revolução científica. Prova disso é que Freud comparava sua revolução à de Copérnico e à de Darwin; e abre ''A interpretação dos sonhos" com a epígrafe: Flectere si nequeo superos, acheronta movebo - Se não dobrar os deuses, comoverei os infernos. Creio que se pode afirmar que ele pretendia uma nova razão, um novo método de ciência.

Embora Lacan considere que o que Freud anunciou como infernal foi, em seguida, tornado asséptico, não deixa de observar que a dissimetria entre Freud e Descartes reside no fato de que o que visa o "eu penso" no "eu sou" é um real em vez de uma verdade.

A hipótese segundo a qual.o discurso do método de Freud, do qual Lacan é seguidor eminente, pretende ser a introdução de uma ciência nova, o anúncio de uma revolução intelectual, até aqui não se tornou evidente. Tal como o marxismo, a psicanálise é um contrasenso: o primeiro propõe que o pivô do sintoma social é a mais-valia, e a segunda, que o pivô do sintoma individual é o mais-de-gozar.

Fim

Uma conclusão sábia.

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