... evidência? Parte 4
Continuação
Destacamos a regra da evidência -verificar, analisar, sintetizar e enumerar-, porque esta tem orientado a pesquisa médica em geral e psiquiátrica em particular. Fala-se em medicina baseada em evidências (MBE), em psiquiatria baseada em evidências (PBE), em psicologia cognitiva baseada em evidências (PCBE). Queremos observar que a regra da evidência é proposta por Descartes há quase quatro séculos; demonstrar que o pensamento cartesiano continua dominante na ciência; e verificar ainda que uma terapêutica baseada na suposição de saber ao sujeito do inconsciente - a psicanálise - é questionada pela ideologia da evidência cartesiana.
Nos anos cinqüenta, Lacan está inteiramente envolvido no contencioso com a Associação Internacional de Psicanálise. Disputara, em 1949, com Sacha Nacht, a presidência do Instituto de Psicanálise da Sociedade Psicanalítica de Paris, cujo estatuto, elaborado pelo próprio Nacht, inclui a seguinte epígrafe: "o futuro da psicanálise está na neurociência". De fato, se compararmos a admissão da teoria do significante com a admissão da teoria da serotonina, veremos que apenas à segunda supõe-se evidência.
O título de um dos escritos lacanianos de 1957, ''A instância da letra no inconsciente" apresentado no anfiteatro Descartes, na Sorbonne, prolonga-se em um subtítulo "ou a razão a partir de Freud", o que parece indicar que a doutrina de Freud pretende ser a proposta de um novo 'discurso do método' que, ao contrário do 'discurso do método' de Descartes, toma por ponto de partida o sujeito do inconsciente.
Segue