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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

... que é evidência? Parte 2

Continuação

Descartes tinha plena consciência da justiça distributiva, sabia que o bom senso, a razão, isto é, o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso, igual em todos os homens, não dependia da diversidade de nossas opiniões, mas da falta de método.

A regra metodológica básica do Discurso do Método é que só se considera como verdadeiro o que é evidente, ou seja, o que for intuído com clareza e precisão, mas a amplitude do saber nem sempre permite a aplicação da regra da evidência. Descartes propôs outras regras metodológicas complementares ou preparatórias da evidência: a regra da análise (dividir cada uma das dificuldades que se apresentem em tantas parcelas quantas forem necessárias para serem resolvidas); a regra da síntese (conduzir com ordem os pensamentos, começando dos objetos mais simples e mais fáceis de serem conhecidos, para depois tentar gradativamente o conhecimento dos mais complexos); e a regra da enumeração (realizar enumerações de modo a verificar que nada foi omitido). Eis o que Descartes prescreve como método da ciência.

Descartes persegue a objetividade do conhecimento científico. Da máxima incerteza surge a certeza. "Se duvido, penso". Porém, trata-se ainda da certeza da própria subjetividade, do "penso". Nenhuma garantia de qualquer realidade exterior ao pensamento. Daí ele avança ao "Penso, logo existo", fazendo surgir um existente, a consciência. Se deixasse de pensar, deixaria de existir. Assim, surge o paradigma cartesiano: "Se penso, existo".

Do pensamento ao ser que pensa, ele chega à distinção entre subjetividade e objetividade; chega à substância pensante (res cogitans), à certeza acerca da existência da consciência, e à substância existente (res extensa), a certeza acerca da existência da matéria. Definidas com substâncias distintas, o pensamento e a extensão coexistem no dualismo corpo e alma.

As quatro primeiras regras, tal como as encontramos entre as vinte e uma regras para dirigir o espírito, influenciam até o presente momento a pesquisa científica.

Koyré assinalou que retemos destas famosas quatro regras, sobretudo as passagens sobre as "idéias claras e distintas", mas também observou que há aí um pequeno esboço de moral, bastante estóica e conformista, e um pequeno trabalho de metafísica, bastante abstruso, com o "penso, logo existo".

Segue

Jairo cita os pensadores e pesquisadores a lastrear os achados em evidências, referindo-se a Descartes, por exemplo.

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