Baiano, Associação e Yacht
Por Ildásio Tavares
Quando eu era menino, só existiam três clubes no mundo: Baiano, Associação e Yacht. Cada clube com sua turma, cada turma com seu jeito, as classes médias e altas da Bahia distribuíam-se nestas entidades como a forma mais sofisticada de lazer; a forma mais qualificada de divertimento, desde as tradicionais festas, Carnaval, S.João, Réveillon; aos esportes praticados com empenho e eficiência – o tênis, o basquete e o vôlei, na Associação e no Bahiano, a natação e o iatismo no Yacht.
Qualquer pessoa que se prezasse tinha que ser sócio dos três. Principalmente porque o ameno carnaval da Bahia se perfazia com os três. O Carnaval começava com o corso da Associação no sábado, uma interminável carreata de carros sem capota e de jeeps, polvilhadas de belíssimas donzelas esparramadas por cima dos carros e dos paralamas devidamente lambuzados de cola e entupidos de confete, no ar uma revoada constante de serpentinas e o cheiro provocante dos lança-perfumes. Ah, Carnaval acabou com o fim do confete, pedacinho colorido de saudade, com o desaparecimento da serpentina; com a proibição do lança-perfume. Começava aí outra coisa.
Apesar de baixo, eu tinha mão certa no basquete e estava quase para ser sócio-atleta do Baiano quando houve um endurecimento nos estatutos. Tinha sócio-atleta demais. Entrei para sócio mesmo aos 18 anos, freqüentador mais das festas, bingos, e continuando no basquete com Patinho, (Roberto Lisboa), Marcelo Lisboa que tinha torcida própria – as meninas torciam por ele não pelo time, Deoclides Barreto de Araujo, Bob, Carlito Kruschewsky, Sheldon e seu irmão Leslie.
E mais as feras do 2° quadro: Fernando Lyra, Aron Kremer. Mimito.
O Baiano de Tênis era um mundo. O Aristocrático. No S. João, as donzelas ocultas por milhares de anáguas rodopiavam no salão circular nos braços ardentes de seus pretendentes, que ali mesmo começavam um périplo de paquera, namoro, noivado, casamento. Para o bem de todos e felicidade geral da nação. Mais tarde entrei para a Associação, atraído pela imensa piscina em cuja inauguração meu amigo Chiquinho Amaral mergulhou do terceiro trampolim e João Gilberto fez o show pelas mãos de seu amigo Coqueijo.
De todos, o mais encantador, o Yacht. Verdadeiro cartão postal engastado na montanha. Típico paraíso do bem viver baiano que se pode desfrutar, desde a sinuca, ao iatismo, ao simples velejar, largar o pano e sair em busca do espelho azul da baía...
O Yacht constitui-se numa zona de paz e de relaxamento encravada no coração da vida urbana, por sua localização privilegiada e perfeita integração no ambiente. Assentado com elegância e perfeição arquitetônica sobre o mar, o Yacht é na verdade um imenso veleiro que ancorou na baía e que lá ficou para júbilo de seus marinheiros. Detalhe a parte: o seu bondinho que nos traz do alto da montanha, integrando-se ao passado.
Que estamos fazendo de nossa Tradição, minha gente? Acabaram com o Bahiano. A Associaçao resiste. Por Senhor do Bonfim, não toquem no Yacht. que é um patrimônio do mundo.