Não passamos incólumes pelos anos...
Ao circular pelos bairros em péssimo estado numa parte mais antiga de São Paulo, pensei um pouco tal ocorre conosco também e lembrei da irreversibilidade do fenômeno. O tempo inegavelmente é duro conosco. Curiosamente, admita-se, um tantinho mais com essas maravilhosas criaturas, nossas companheiras, mães, amigas e colegas. Não em questões de aspecto ou sensualidade, mas nas coisas d´alma. Neste contexto a chegada do fim da produção de estrogênio não muda apenas o cotidiano orgânico das mulheres.
Aliada às descrições do padrão de sintomas (apesar de não ser doença) como as ondas de calor, diminuição do fluxo mensal, dificuldades com o colesterol, surge algo os médicos descrevem como uma “enorme irritabilidade”. Crises de choro, impaciência extrema e certo, quando houver um companheiro, enquadramento mais rígido de suas atitudes, com cobranças e acusações; a um sujeito muitas vezes conhecem desde a juventude, pais de seus filhos e, esses assustados, não conseguem lidar com o fenômeno, como disse, algo cruel com as mulheres.
Lembro de certos bate-bocas entre meus pais, provavelmente não atentos ser algo relacionado ao natural envelhecer. Menos esclarecidos, faz 30 anos que ocorreu. Porém em determinado momento, um tanto pragmática e realista, a minha mãe dizia: acho que estou na menopausa...
O que entretanto, em sua mais tênue menção, pode levar a maioria das acometidas pelo irreversível roer do dente do tempo a uma crise de choro, de ódio e de procurar no outro a origem de tudo aquilo não se harmoniza com sua pessoal Weltanschauung, usando deste expediente pouco simpático de citar termos em outra língua para designar algo.
Ao parceiro menos atento, alto risco, convenhamos. Suas questões e dificuldades pessoais não são mais de qualquer interesse, todos os atos são analisados sob a ótica da relação interpessoal, atribui-se ao incauto os deslizes imaginários para a instabilidade da união. E pode levar a certo, pouco complacente, perguntar: eu não mudei, o que ocorre?
Com o cessar da produção de estrogênio, o hormônio feminino, explica aqui nas andanças pela rede mundial um certo médico inglês, “elas se tornam mais similares aos maridos, insistem em suas próprias opiniões e desejam, querem e coordenam quando podem aquilo seria tarefa do companheiro”.
Em complexo conflito, pois ao mesmo tempo pela desfeminização imaginada, pelo fim da capacidade procriativa, entendem-se menos desejadas. Diz o doutor “pela redistribuição das gorduras, crescendo barrigas e diminuindo traseiros, após o início da menopausa, algumas mulheres acreditam não serem mais dignas do desejo de seus maridos e qualquer imaginado ventilar do assunto ou esmorecimento pelo parceiro pode levar a uma terrível crise”.
Alguns médicos, leio aqui, recomendam algo como a reposição hormonal, a estabilizar a osteoporose associada à menopausa, diminuição da sudorese repentina e estabilização do humor. Outros dizem que não passa de grande interferência quìmica, a alongar algo que se encerra com naturalidade, podendo até criar outros desconfortos mais adiante.
Enfim, como homem só posso concluir: sei lá... para nossas amigas é complicado.