Penha de França
Convidei a esposa para um voltinha paulistana, um tanto sem graça pois envolve a passagem por bairros algo derrotados pela dura essência do tempo, que neles se derramou inclemente, tirando-lhes o brilho e a habitabilidade agradável.
Fomos a Penha, meu intuito era conhecer a capela, depois igreja, da Nossa Senhora da Penha de França, como é ou era conhecida. Vergonhoso, eu paulistano de 5 décadas por cá jamais ter ido ao local e entrado na dita.
Apesar do plúmbeo acesso pelas vias Radial Leste e Celso Garcia, por fim cruzamos a tal Avenida Aricanduva, que recebeu o nome por passar ao pé do Morro do Aricanduva e do homônimo riacho próximo. Morrote onde se encontram igrejas; pelo que verifiquei: a matriz, uma outra imensa, mais nova, de onde surgem as odes paulistanas a Santo Expedito e seus milagres; e uma capela, mais atrás.
Fomos à matriz.
Encantadora, impressiona pelo portal de entrada todo em madeira escura, coisa da época imagine-se. Por sobre esta entrada a data entalhada: 1682.
A lenda diz que um francês por lá passou, indo de São Paulo ao Rio e dormiu em abrigo no morrote. Levava consigo um pequeno oratório com a Nossa Senhora. Seguindo viagem, percebeu na noite seguinte que havia esquecido a santinha e retornou ao local. Por sorte lá estava a dita, seguiu viagem. Porém, na noite, novamente, a santa não andava consigo.
Retornou ao local.
E lá estava, como se houvesse escolhido a elevação para abençoar o povo da região. Dizem que o francês entendeu a mensagem da Senhora (e a psicanálise necessitaria mais dois séculos e pouco para surgir e explicar essas questões...), e solicitou aos moradores do local que erguessem uma capela, hoje a igreja, (para a santa, que veio da França).
Sempre preservada e ampliada, simples externamente, com toques de alguma sofisticação na derradeira reforma, pelo que entendi algo dos anos 30 e 40 do século passado. Houve reforço estrutural por volta dos anos 80, em vista de risco de demolição por queda, ameaçada que andava.
Como toda igreja, tem sua curiosa mágica, a marca de mostrar certa forma de intimidação, incutir nos fiéis que “há algo”, maior. A quem se apela.
Como vi: homem jovem ajoelhado à frente de um altarzinho lateral, os braços abertos, mãos espalmadas. Aparentemente solicitando algo em desespero ou agradecendo, como se diz, a graça recebida.
O mistério da fé, esta coisa incutida em todos nós, que nos alegra ou assusta, nos conforta ou enraivece. Infelizmente por tantos utilizada como instrumento de poder, assim vejo agora no jornal a força dos soturnos aiatolás no Irã, a quem compete a palavra final, acima de todo o ensaio democrático de eleições livres (e estima-se , pelo estranho resultado, fraudadas.).
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