Televisão para cães
Imaginava o aparelho ser algo inventado por aqui, nunca havia visto em outro lugar. Talvez até seja, alguém levou a idéia para os quatro cantos do mundo. Fato é em foto da Julia Bussius, de algum lugar para boas refeições, pela fria Paris, vejo o maquinário assador, fascínio extremo de vira-latas que se prezam.
Penso ser de uma paulistanice total, aquele armário de inox, queimando seu gás enquanto os dourados frangos empalados se bronzeiam, já pelo além. No porão do aparelho uma piscina para batatas, que recebem as gordas exudações dos bichos e seus hormônios de crescimento, segredinho do bom granjeiro.
De qualquer sorte é de abrir o apetite de homens e cães, os primeiros com direito aos melhores pedações. Os totós se contentam com os restos... É assim.
Porém irresistível, com cortes ligeiros de um tesourão, o bicho é retalhado, embalado e lá vai, acompanhado de farofa, batata e uma geladinha cerveja.
Se inventado por lá ou por cá, pouco importa. O cão assiste em êxtase o lento girar dos espetos e suas filas de frangos, como nós, mulheres e homens, verificamos o filme ou a novela.
Anseiam pela galinácea assada os caninos da rua; nós desejamos o glamour, a aventura, os produtos chiques, a beleza eterna, a sabedoria, o poder, o grande amor, enfim, aquilo que ao cão é atirado em sobras, a nós, o público, também pouco recebemos ou apenas aos restos.
Somos assim...