Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

O dilema do presente

Questão de alguma complexidade, o que dar de presente para alguém. O hábito é do homem, em todos os povos. Do olho da foca, uma delicatesse para crianças inuit ao "relojão" Chopard cravejado de diamantes, a bordo de luxuoso iate, sempre há o intuito de agradar, demonstrar o apreço e querer bem ao presenteado.

Com seus exageros; leio aqui que Howard Hughes, o maluco milionário americano, alugou um galpão em Los Angeles para onde seguiam todos os presentes, brindes e agrados que recebia. Jamais abriu qualquer um, permanecem assim até hoje, 30 anos após seu desaparecimento.

Porém o que presentear, qual a ocasião? Não sei, à medida que os anos passam, me perco nesta viagem do conhecimento. Certa vez recebi de presente um inutilíssimo abridor de cartas, com uma inscrição de brinde de alguma empresa. Repasse de presente. Jamais entendi o significado; até hoje: quem mo deu, simplesmente pensou em um presente como ato de homenagear. O objeto em si era irrelevante.

Justo.

Porém a fina arte de presentear, com categoria e precisão é algo que realmente não domino.

Às vezes comprava uns badulaques para a patroa, porém notei que raramente, quase nunca, usava, excetuado um relógio simples. Reformava os objetos recebidos, trocava, guardava. Concluí que o meu, digamos, estilo para a escolha dos objetos divergia do seu. Apreciava o ato de receber o mimo, mas não os objetos em si. Um deles, relógio de boa marca, nunca usou. Dei livros, não sei se leu, porém flores agradavam sempre.

A mágica instintiva das flores é cabal. Sempre certa. Como pizza, sempre agrada, mesmo que não seja o momento ou ocasião.

A singeleza do produto próprio, algo feito por quem dá, é a essência do sincero presente. Por exemplo: um texto escrito para a cunhada em seu recente aniversário. Ou uma ampliação de fotografias. Um quadro pintado, certo bordado, belo bôlo... Enfim, presentear bem é uma arte. Dar lembrancinhas é mais comum, importando apenas, no fundo, a sinceridade. Poucos dominam, eu infelizmente tenho que me excluir deste pequeno grupo.

Somos assim.

Criança inuit, cuja prenda privilegiada na caça às focas é o olho do animal recém abatido. Como acepipe.

Comentários (clique para comentar)

Ricardo Hanitzsch - 05/06/2009 (16:06)

Enfim uma certa modéstia.