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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Sumiço

Muitos anos atrás, um vôo cargueiro da nossa ex-gloriosa Varig indo, me parece, de Tóquio a Los Angeles, desapareceu. Nunca houve qualquer esclarecimento sobre o paradeiro do Boeing 707 e seus seis tripulantes.

Curiosamente o comandante daquele vôo era sobrevivente do terrível acidente com outro B-707 em Orly, 1971, onde um incêndio a bordo* fez o pouso em um campo de cebolas próximo do aeroporto inevitável.

Hoje, 1 de junho de 2009, leio sobre o desaparecimento de um Airbus A-330 da Air France, saindo do Rio de Janeiro com destino a Paris, sem contato a partir de Fernando de Noronha. Nem um traçozinho de qualquer vestígio, nem um comunicado de navios a terem visto/ouvido algo, nem um EPIRB ativado (sistema via satélite de informação da localização de sobreviventes em botes ou da própria aeronave).

Nada

Duzentas e tantas almas quem sabe ainda boiando em algum canto em botes (apesar de 100% dos pilotos negarem haver muita chance de sucesso em amerissar um Airbus em pane, no oceano revolto pelo tempo ruim, à noite. Porém neste improvável caso poderia haver alguns sobreviventes...)

A companhia aérea especula poder ter havido uma fortíssima turbulência (o piloto assim comunicou) na tal frente inter-tropical, área no equador onde muito comuns as instabilidades. Ou um raio ter atingido, apesar de isto não ser grande problema para aeronaves, pois têm sistemas de descarga para a atmosfera e não serem comuns raios em 12.000 a 13.000 m de altitude. Mas...

Conheço o efeito quando há turbulências em aeronaves. Observo os demais passageiros e percebe-se a seqüência: cessa qualquer leitura ou acompanhamento de filme, estranhos trocam olhares confidentes e assustados, algo como “estamos juntos nesta, seja o que Deus quiser”, o sangue foge das faces e o silêncio geral é imediato.

Quando retorna o equilíbrio, as pessoas aliviadas chalram, com certa alegria até.

Todos, até o mais experiente e inveterado piloto, sofrem de acrofobia. Não somos pássaros, apenas nos acalmamos em vôos tranqüilos a grande altitude com filminhos e comidinhas servidas em aviões grandes. Entretanto a qualquer balanço já estamos alertas e amedrontados.

Não é como no ônibus. Que bamboleia pelas estradas esburacadas, com um normalmente cansado e imprudente camarada ao volante, os pneus carecas, em grande velocidade. Neste vamos tranqüilos, a maioria cochila-dorme, assobia, olha a paisagem. Rimos quando quase bate de frente em uma manobra mais ousada de ultrapassagem.

Por que?

Porque estamos no solo e mesmo expostos a um risco muito maior, nosso instinto nos acalma. Em último caso o ônibus pára e descemos. Sabemos o que o motorista faz, muitos também são motoristas. Conhecemos as estradas.

Porém lá em riba, não. Entregamos nossas almas a dois ou três sujeitos que nem vemos, não conhecemos. A fazerem manobras que estranhamos, voando em altitudes onde nem os pássaros vão, a velocidades que desintegrariam os ônibus e então, sim, temos medo.

Somos assim.


* Por isto sempre alertam que é proibido fumar, principalmente nos toaletes. Estima-se que em 1971 alguém jogou uma pituca na caixa de lixo plena de papéis.

Este 707 (foto é de um similar) Varig desapareceu em 1979, sem qualquer vestígio.

O Airbus 330 da Air France teve sua hora hoje,1.06.2009. Por enquanto seu destino é incerto. Sumiu perto de Fernando de Noronha, 80 a bordo eram brasileiros.

Comentários (clique para comentar)

- 04/06/2009 (12:06)

Ainda bem que temos estes gênios na política e administração... responsáveis e serenos. Viva o Cabral, ele vai resolver!

RIO - O governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), disse nesta quinta-feira, 4, que há responsabilidades civis sérias da empresa fabricante do Airbus 330 ou da Air France na queda do avião do Voo 447. "Isso não é uma tragédia natural. Não há uma explicação que não seja por uma falha técnica muito grave", disse ele, ao chegar ao ato ecumênico pelos mortos do acidente na Igreja da Candelária, no Centro do Rio. "Acredito que as autoridades internacionais da avião civil, a empresa fabricante do avião, e a companhia aérea proprietária da aeronave têm muito a explicar. Porque se há uma nota técnica de problemas no A-330, há responsabilidades civis sérias", afirmou o governador, acrescentando que o governo dele irá dar todo o suporte necessário às famílias.

Anonymus - 04/06/2009 (11:06)

Inicia-se o jogo político, para suprimir responsabilidades no caso do acidente. A primeira meta é culpar o piloto, claro, com os informes estar 'na velocidade errada', no local errado, etc. Mortos não falam. Adianta-se a companhia aérea e confirmar "não haver sobreviventes". Ótimo, sem testemunhas portanto. Sem caras indenizações para quem pudesse ter escapado. Descarta-se atentado à bomba, que mesmo ocorrido, porém negado, tira o vapor das demandas de qualquer terrorista, simplesmente negando o fato. Até inteligente, se fato. Nosso ministro da defesa falando as abobrinhas de sempre. Nisto é bom, como político e jurista. "Manchas de óleo...", aviões não produzem manchas de óleo de 20 km. Querosene poderia deixar um rastro talvez, mas não vinte quilometros. E os destroços que tanto viram, e localizaram, relutam em ser recolhidos pelos navios enviados. Peças de 7 metros, bóias, botes inflados reportados. Mas nunca fotografados, pelos menos até hoje, 4 de junho. E todos se movimentando para o "vamos esquecer o assunto", aqui como acolá. O esforço francês é similar ao nosso, com bela missa, umas palavras bonitas de Monsieur Le President, mas pouca ação, os barcos navegam lentos, os aviões voam devagar, são militares, funcionários públicos, portanto a responsabilidade se resume a conferir contra-cheques e prazos para aposentadoria... Mais alguns dias o assunto morre, a dor fica aos que perderam os seus e life goes on.

- 03/06/2009 (08:06)

Ask my wife...

Ricardo Hanitzsch - 02/06/2009 (18:06)

Vc não é consumidor em larga escala.

- 02/06/2009 (16:06)

Aprecio o scotch... e mais nada.

Ricardo Hanitzsch - 02/06/2009 (16:06)

É fato, Thomas. Aprecio seu gosto pela precisão. Abraços Ricardo

Hermógenes de Castro & Mello - 02/06/2009 (08:06)

Perdão, está certo o amigo. Parece que o vôo Varig que matou Agostinho dos Santos, o grande cantor e o famoso velejador Jörg Bruder, fez pouso de emergência em um campo de cultivo de cebolas em 1973 (11 de julho) cerca de Orly. Examinados os destroços pela Boeing, verificaram que o incêndio foi causado por uma ponta de cigarro acesa jogada na caixa de lixo de um dos sanitários do fundo. O mesmo piloto, que se salvou neste acidente, sumiu em 1979 com um cargueiro Varig sobre o Pacífico, nada jamais foi encontrado. Lamento o engano, agradeço a retificação.

Ricardo Santos - 01/06/2009 (17:06)

Não foi em 1971. Berichtgen Sie ihre Zahlen.