Pensar e agir diferentemente
Leio aqui do "herói" italiano da atualidade, o capitão do navio de cruzeiro MSC Melody, quase capturado ao largo da Somália pelos denominados "piratas de havaianas", jovens que com lanchas rápidas seguem navios e sorrateiramente os capturam, pedindo resgates milionários.
Com algum sucesso.
Vamos aguardar até nossa turma daqui resolver seguir o "exemplo"... apesar de já ter ocorrido, em escala modesta, porém manter o navio em algum canto da costa brasileira, aguardando resgate, ainda é complicado. Mas ocorrerá, logo, logo. Este pitéu não pode passar incólume ao longo da malandragem bandida brasileira.
Divertido entretanto é o desmascaramento da ação heróica do capitão italiano, pelos, imaginem, passageiros. Que tal refuta, à la Berlusconi, esse intuito de ridicularizá-lo; todavia aparentemente os esforços estão minguando.
Sua ação de defesa contra os piratas de chinelos, na verdade, foi engedrada por passageiros do imenso cruzeiro, que se encontravam na popa. Uma senhora, que por acaso observava o mar no lusco-fusco da hora, percebeu o bote com a turma e alertou a outros. Um dos somalis já estava escalando o costado quando recebeu uma espreguiçadeira e cadeiras no lombo, com força, caindo do costado, com corda e gancho. Foi à água, pescaram-no os demais e afastaram-se, recompondo forças.
Mas nada de desistir, fizeram nova aproximação e, reunidos os passageiros da popa, novamente atiraram as espreguiçadeiras e cadeiras na mancebada.
Enraivecidos, deram uma rajada de trinta tiros contra a turma no turismo, de suas possantes AK-47 Kalishnikov, a maquineta em mãos do terror mais utilizada.
O comandante Ciro Pinto, no bar do navio em papinho com duas passageiras sul-africanas, foi alertado também por passageiros do que ocorrria. Chamou seus seguranças (dizem ser ex-Mossads israelenses, mas não há certeza. Quando ações dão certo, sempre alguém já invoca ser coisa do Mossad...), liberou as armas e longos 8 minutos após a primeira cadeirada, um passageiro baleado na perna e um tripulante não armado, com um tiro de raspão pela testa, sugiram para defender a nau.
Deram tiros de pistola mas os piratas pé-de-moleque já estavam distantes. Como diz o burro jargão policial. "Os elementos se evadiram, após o ato de desinteligência..."
Em paralelo, Ciro Pinto havia corrido à ponte e solicitado o navio entrar em zigue-zague, para que as marolas desestabilizassem o bote dos somalis, liberando também os armamentos aos seguranças.
Deu tudo certo, até à hora dos louros.
Ciro Pinto os quis para si, os passageiros se enfureceram e contaram como foi o de fato ocorrido. E a companhia de navegação pelo visto admite a ação dos piratas ter sido sustada com o atirar de uma espreguiçadeira e a posterior ação dos seguranças. Certo meio termo. Porém o passageiro herói, que ainda tomou uma bala na perna, ser prova cabal de como se expuseram aos piratas.
Bandidos e autoridades têm muito em comum. Ambos se consideram detentores da relação de força com a verdade. Sempre recomendarão a nós, vítimas, no mesmo jargão: não reaja, obedeça, entregue e saiba que será submetido a condições vexatórias. Jamais tente fazer o que nós fazemos, seria o dito auxiliar.
Ou seja: só nós sabemos ser bandidos, só nós outros sabemos enfrentá-los. Qualquer um a se arriscar, digamos, e excluir e cuidar do assunto por sua conta, estará irremediavelmente perdido.
Pelo visto a ou o turista que jogou a cadeira de praia no escalador de navios metido a pirata pensava diferente. Capitão e forças de seguranças mostraram-se bobocas, tardios heróis auto-proclamados. Assim também os somalis, que se mandaram.
Temos que pensar e agir diferente, às vezes.