A praça horrível
De tempos em tempos leio sobre revitalização dos centros de cidades. Por nossa terra brasileira e suas cidades penso há algumas iniciativas também, a promover a restauração, o “bom uso” (seja lá o que significa) e o turismo. Centros restaurados têm seu charme, dizem.
Fato possível para ricos países, um tanto mais complexo para os outros, porém todos fazem suas “intervenções”; de alguma forma surge como tentativa de resgaste de tempos gloriosos, talvez. Ou simplesmente um pesado ajuste de construtoras e prefeituras, a recolher dinheiro público.
Por cá há experimentos interessantes. A remodelação do porto de Belém, transformando armazéns em aprazivel ponto de lazer: relativamente democrático, uma “praiona” paraense. Funcional com comércio e gastronomia, uma alternativa à cidade quase sem qualquer possibilidade de diversão, a não ser distantes localidades à beira-mar.
Nossos vizinhos argentinos renovaram seu Puerto Madero em Buenos Aires e, como Belém, é um lugar aprazível, alegre e aproveitamento exemplar de extensas instalações para outro uso, em vista da “conteinerização” da navegação comercial mundial, transformando os portos.
No Rio de Janeiro, que bem toleraria este tipo de ação, não foi feito, idem Salvador, apesar de por lá a caríssima reformulação do centro histórioco, o Pelourinho, ser pouco louvável pela truculência da execução, entretanto aceitável a não perder para as intempéries o rico apanhado arquitetônico colonial. Olinda fez bem, com modéstia, São Luiz é uma vergonha, imundo e mal mantido centro histórico, mas isto é explicável pela consciência sarneyana de administração pública.
E nossa São Paulo?
Para o turista esta cidade definitivamente se resume a compras, cinemas e teatros. O turismo arquitetônico, se o termo existe, passa por raras obras de alguma beleza, porém sem ofensas aos nobres arquitetos, de hoje e antão, no cômpito geral é uma mistura tenebrosa de arte imigrante com cafonice esplendorosa, como o Teatro Municipal, e experiências que pelo visto, envergonhadamente, a própria administração pública abandona.
Apesar de morador da cidade, aventurei-me turísticamente neste feriado de 21 de abril a uma tour solitária, a desbravar algo que não frequentava em boas 3 décadas. Fui a um marco de épocas de chumbo, a horrorosa Praça Roosevelt. Exemplo gritante do abandono de uma praça pela administração municipal.
Talvez um dos marcos arquitetônicos mais sem graça de uma grande cidade, esta praça de cimento, cobertura de avenidas, disposição de pouca criatividade das rampas e acessos, em meio a um agrupamento de prédios por um lado, colados entre si todavia não xifópagos e um hoje obscuro cólegio estadual, com passados de glória, estranha marca germânica, sem charme, porém. E absolutamente abandonada e imunda, há anos, pelo que soube de moradores das bordas.
Meninote fui estudar na dita escola e já registrava os comentários de quão horrível havia sido a transformação do local, antes um grande estacionamento, com esporádicas feiras livres. Prato cheio para construtoras, pois a quantidade de cimento e lajes a cobrir vãos imensos (sim, é uma praça em andares) devem ter custado um tanto. A parcialmente abrigar, talvez, a mais degradante obra arquitetônica da cidade de São Paulo, o Minhocão (Elevado Costa & Silva), que estupra a paisagem da capital.
Porém ao turista a praça oferece algo, curiosamente: uma série de mini-teatros ao redor, alguns botecos e, pela repugnância ao visualmente exposto em matéria de arte em construção, a possibilidade de verificar-se, até claro ao leigo, como não fazer.
Mas há turistas que sonharam e não sossegaram enquanto não foram a Bagdá, com todos seus riscos e pouco atratividade do local, a praça Roosevelt não seria diferente. Há quem goste.
Somos assim.
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