Cuidado com a net...
O momento noturno era de imenso prazer. Entre meia noite e 3 da manhã, munida de farto café, cremecréqueres com gordo requeijão, cigarros escondidos do marido e da sogra, postava-se à frente do computador e navegava pela Internet. Não se interessava pela pornografia abundante nem pelos sites de hiperviolência. Nada de jogos, não sabia acessar.
Gostava mesmo era de provocar.
Procurava páginas onde era possível postar mensagens ou enviar correspondência eletrônica aos autores; ou departamentos de atendimento ao cliente. Detonava os mais irados comentários, a ofender criadores, autores e atendentes. Qualquer e-mail de propaganda ou proposta recebido, respondia com as mais cabeludas ofensas e aguardava respostas.
Algumas vinham, automatizadas, porém. Outras pediam decôro à senhora. Entretanto as que traziam prazer, deixavam-na quase tonta de gozo, eram os reais contatos, alguém que desejaria ajudar, saber a razão da ira imensa. E lentamente encantava...
E às vezes se alongavam, a conversa rendia, sugeria-se até marcar encontros. Resistia, não saberia dar o passo em direção ao desconhecido, ao perigoso outro, com quem correspondia nestes seus soturnos anseios.
Até ontem.
Acharam-na morta em seu carro, no estacionamento do único pequeno xópingue de sua monótona Alice Springs na Austrália. Levaram a bolsa, sacaram das contas. Porcaria , 600 dólares.
E o bandido assassino ainda riscou na gorda bochecha: cuidado com a net.
O ene invertido, ruim de escrita o sujeito. Talvez coisa de adolescente aborígene...