Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

O caminho do Rajastão

Por Julia Bussius

Há pouco mais de uma semana, recebemos a visita do Nelson, pai do Luís, que fez uma passagem relâmpago por aqui. Aproveitamos certo dia para fazer rápida viagem de carro até a vila de Kesroli, no Rajastão, que fica a cento e poucos quilômetros de Gurgaon e tem um simpático hotel, instalado num antigo forte do século XIV.

O forte-hotel é um lugar delicioso, mas o mais "forte" dessa pequena viagem foi o caminho da vinda. Saímos de casa por volta das oito, numa estrada cheia, como sempre são as estradas daqui.

Na saída, cidades menores, mas ainda muito urbanas, foram margeando nosso percurso. A paisagem torna-se mais desérticas, conforme entramos no outro estado. Logo surgem os primeiros camelos, puxando as carroças baixas. Depois, uma frota desses camelos. E ainda, um curral cheio deles e de pequenas ovelhas. Paramos o carro para tirar algumas fotos de perto.

Luis e Nelson se aproximaram do portão, onde um menino empoleirado na coluna observava os passantes. Ele usava um pano branco na cabeça, enrolado em forma de turbante.

Logo vieram os homens mais velhos, prováveis donos do rebanho, e começaram a falar muito, numa língua que para nós todos era desconhecida. Tentamos o inglês, mas nem sinal de entendimento. Eles trouxeram outras duas crianças, uma menina e um menino, cobertos pela poeira, e ficavam o tempo todo apontando para os pequenos e em seguida para o nosso carro. E com as mão faziam o sinal de dinheiro, esfregando o polegar no indicador. Nelson tirou seu porta-moedas do bolso para dar algum às crianças e nisso o homem mais velho de todos – portando um vasto bigode e seu turbante – enfiou a mão na bolsinha e queria levar tudo embora. Nelson resistiu e conseguiu arrancar das mãos dele.

Assustados, Nelson e Luis entraram no carro (de onde eu não saí) e decidimos que era hora de partir. O homem ainda segurou a porta do passageiro e tentou forçar alguma coisa que não entendemos bem o que era. As crianças trazidas não paravam de sorrir e o tempo todo diziam algo para nós, balançando a cabeça, que era entre um pedido de socorro e um certo medo de que nós de fato entendêssemos o que eles queriam.

Um pouco antes dessa cena, na mesma estrada, um menino de cinco anos, no máximo, saiu correndo absolutamente desesperado quando diminuímos a velocidade do carro para tentar cumprimentar-nos. Nós ficamos perplexos com a reação, ele largou a mochila e tudo e saiu em disparada.

Mas a cena seguinte nos deixou algumas pistas da situação dessas crianças do caminho.

Continua...

Em bela foto, a juventude indiana no Rajastão, criadores de camelos.

Aos mais velhos a ganância, pelo visto até com veemência exacerbada pelo descrito por Julia Bussius.

Camelos, o trator da Índia?

Comentários (clique para comentar)

Marcele Rocha - 21/03/2009 (12:03)

Que TRISTE...

emilia - 17/03/2009 (11:03)

Que peninha das crianças!!!!! E o pior de tudo é saber que elas nao sabem que existe um mundo melhorzinho onde, pelo menos, o comércio de gente não é visto como normal!

Hermó - 16/03/2009 (16:03)

VIxe, desculpe!

http://shivaemgurgaon.wordpress.com - 16/03/2009 (15:03)

fotos de Luis Barbieri