Fim de uma charada (e começo de outra...)
Penso na vida todos temos nossos sonhos; de consumo, de viagens por fazer, de parceiros e parceiras a desejar, amar, casar. Ter filhos, casa, automóveis, sossego financeiro. O substrato do mais vil capitalismo e burguesia, pelo qual mostramos os dentes, trabalhamos anos ou até roubamos, pois, acreditem: o ladrão no fundo só deseja consumir, sonhar e descobrir-se burguês.
E, nesse sonho, há alguns anos resolvi partir para a realização de um meu, a compra de veleiro. E lá fui, achei. Um pouco passado dos anos, 13 na verdade. Entretanto como é o meu número de sorte, arrisquei e, maxilar apertado, paguei ao alegre vendedor. Na verdade penso se arrependeu o sujeito, pois os olhinhos de seu filho brilham quando vêem o barco; o qual tinha seu uso liberado por mim, a amigos e ao ex-dono (e hoje amigo), principalmente.
Porém o sonho é apenas sonho. Não arrisquei idas ao Caribe, nem outras longas travessias. Nem me permite ainda o ácido cotidiano. Descobri-me também tanto menos ágil, após os 50, para manobrar o troço sozinho ou com convidados não conhecedores das manobras. Enfim, a onirização se desfez e aliado ao desfavorável momento econômico, amargando o prejuízo costumeiros nessas operações, vendi a pequena nau. Espero o sucessor na condução do Charada, este o nome do barco, realizar os sonhos, com mais desenvoltura que os anteriores proprietários, os quais pouco navegaram por aí.
Mas por que o início de outra charada?
Bem, os sonhos continuam. Muitas vezes desejei retomar o vôo-à-vela, aquilo titulam de esporte de muito doidos e praticava na juventude, o vôo de planadores, a seguir urubus. Hoje com segurança aumentada, taxa de acidentes mínima, com motores auxiliares e por aí vai. Porém a preços de alisar os pelos púbicos de Josef Stalin...
Nem iniciei a aproximação e já abortei o projeto. Ando sem coragens, com medos do que pode vir por aí, nesses altos e baixos de crises, estas agora globalizadas. Permanecerá a charada. Cauteloso até no lazer.
Somos assim.
Momentos de lazer, porém penosos. Haja despesas!
Foram alguns anos ao leme do Charada, muitas boas horas, mas barcos e homens têm seu tempo. Envelheceu o barco (e eu um tantinho também).
A nova geração era entusiasta, mas o ritmo não permite, exige-se muito desta turma para enquadrar-se no vil esquema onde mandará o raio do capital... há pouco tempo para o nada fazer.
Fujiro K. Grana - 10/03/2009 (05:03)
Tá difícil de achar aquela preciosa "água limpa". A "matinha" já não existe mais, e isso há alguns anos. As "galinhas" estão siliconadas, e os "porcos", anabolizados. As "vacas" andam, há tempos, mal intencionadas, iludidas por um sistema judiciário ineficiente, que a elas mesmas empala em bifes para churrascos indigestos.
O barco seria ótima alternativa para buscar a vida simples que se propõe, jogando fora todas as convenções e padrões que a sociedade nos impõe. E nisso o Hermó estava no caminho certo...
Certíssimo, aliás, porque eu mesmo trilhei essa exata rota. Mas nem isso funciona mais assim: hoje dispomos de precisos GPSs amarelos que nunca erram as coordenadas, mas não temos mais para onde ir ou lugares novos para descobrir... Falta-nos, sempre, tempo de fazer aquilo que verdadeiramente nos dá prazer, inclusive o simples "curtir os bons amigos", direito. Tampouco eles têm tempo.
Somos assim: escravos sem perceber.
Fica de lembrança, na mesinha da "sala de ginástica" que não consigo usar há anos, uma bela maquete de um veleiro, presente recebido de um grande amigo, para servir de símbolo-ilusão da vida que todos gostaríamos de levar.
Que mundo é esse ?
Hermó - 09/03/2009 (15:03)
Lady Sarojin! Wunderbar! He, he, esta foi ótima!
Zara Patricia Mora - 09/03/2009 (15:03)
que sensibilidade ao falar de seu veleiro , a verdade que a vida muda e a miúdo deixamos nossos hobbys e paixões , é duro mas é mais uma etapa
um cumprimento
lady sarojin - 09/03/2009 (14:03)
diante de um belo mar, ficamos saudosos do Charada. Apesar de ter estado poucas vezes nele, achava uma embarcação muito simpática e sempre um bom motivo para ir até a bela cidade de Parati. Mas, a vida continua! Esperamos com entusiasmo e bons pressentimentos pela nova "charada".
Anonymus - 09/03/2009 (13:03)
A história do americano a incentivar o pescador mexicano a trabalhar mais, ter mais um barco, pequena companhia, um depósito, mais barcos, outro depósito, um frigorífico de pescados e anos adiante algum lazer. Para comprar a sonhada casinha, à beira da praia. Para descansar, olhar os barcos... E o pescador pergunta ao gringo para "que diabo a volta toda, se é o que faço agora?".
Luiza - 09/03/2009 (13:03)
Uma terra com uma matinha e uma água limpa asseguram uma vida boa com crise ou sem crise. Uma horta, umas galinhas, uns porcos, umas vacas e um belo pomar suprem a questão biológica. Um pouco de literatura e vida social fecham o ciclo de uma vida simples. Pense nisso.