Ficando longe
Notável é o comando dado por assessores para político e administrador público de qualquer estirpe imediatamente afastar-se dos locais onde as coisas não correm bem. Acidentes, grandes comoções e outros.
Quando os ingleses arrasaram Hamburgo na Segunda Guerra, alguns menos gelados pediram a Hitler lá fosse para solidarizar-se com a população. Não foi e justificou traria inimagináveis danos à sua imagem de firme e varonil lutador pela causa nazista, postar-se entre ruínas e escombros fumegantes de grande cidade alemã.
Certo leitor, destes chatos que escrevem cartas para jornais, um tal Th. Bussius (quem seria?), em o Estado de São Paulo de hoje, comenta questão similar.
Escreve que no caso do Lear Jet que despencou neste domingo passado (4.11.2007), nos escombros das casas ou enterros, ninguém de algum renome político-administrativo apareceu. Nem o prefeito, nem o sub-prefeito (alguém sabe quem é?), ninguém da agencia reguladora da aviação civil, ninguém do ministério da defesa, da aeronáutica, nem o governador, vice-governador, nenhum vereador pela Casa Verde, deputado, senador ou outro de algum prestígio.
O ministro da defesa estava descansando na Bahia, na casa de um ex-chefão do Banco Central, avisando, porém, que vai aumentar a fiscalização... Claro.
Nosso metalúrgico-mór pelo visto segue a doutrina hitlerista de distância dos eventos negativos, que poderiam futucar a imagem do mais ético dos éticos de todos os tempos, um fenômeno que só o próprio e Baruch Spinoza podem entender.
Não vai às enchentes, acidentes e nem aos entes; dos que se estreparam.
Somente surgiram, como relata o atento leitor (chato, claro), os anônimos heróis de sempre: vizinhos, bombeiros e policiais. Fazem o rescaldo, ajudam vítimas, reviram os escombros, chamam ambulâncias. Não se lamentam, não se abalam com a chuva. É o trabalho.
Por ironia do destino, quando os incautos jovens árabes detonaram as torres gêmeas em Nova Iorque e Bush recebeu a notícia, a ida posterior aos escombros foi necessária; recomendação dos assessores. Para apagar a imagem do apalermado presidente da super-nação, em sala de jardim-de-infância na Flórida sorrir troncho e ficar minutos sem esboçar reação confrontado com o assunto.
Abraçando os bombeiros do rescaldo, com megafone na mão, mais tarde consertou a meleca e jurou vingança. Mas não há fotos dele em meio à Bagdá arrasada após os bombardeios e, na enchente de Nova Orleãs, apenas sobrevoou a cidade. O posterior encontro com a imprensa foi distante o suficiente para não mostrar grandes marcas do ocorrido.
No acidente com o Airbus em Congonhas ninguém surgiu, excetuado, mais tarde, o atual ministro da defesa em passagem pelos escombros, logo a substituir quem dizia ser tudo apenas uma "crise emocional" e que qualquer “reação seria um retrocesso”. À la Bush o substituto andou com os bombeiros.
Porém, me parece, mais como um candidato a futuro cargo elevado a dizer: “eu vim e resolverei”.
No acidente de domingo preferiu não aparecer, já que ocorreu sob sua gestão... onde também nada se resolve.
São assim.