Vítimas de suas mentes (e da imprensa)
Leio aqui da jovem advogada brasileira, cuja história sobre temível ataque de hooligans-skinheads-nazistas de radical ultra-direita em subúrbio de Zurique, mostrar-se a cada dia menos, digamos, consistente. O namorado já se afastou, oficialmente para fugir ao assédio da imprensa; me parece, porém, o coitado querer é distância da coitada.
Coito, coitado, coitada... interessante nosso português cotidiano, em comentário inútil.
Os gritadores de bordo, contra a discriminação de brasileiros em terra helvética, já andam piando, dizendo de uma forma ou outra a moça seria grande vítima: dos malvados ou de sua mente conturbada. Certo colunista francês e brasófilo encheu a boca, sem saber de tudo e já condenou toda república alpina, a defender-nos contra as hordas selvagens de Guilherme Tell, seus queijos, chocolates, banqueiros e relógios. E daqui, bem, o mínimo a esperar após os comentários na imprensa, seria declaração formal de guerra ao pequeno país (com a vantagem de recuperar-se, em caso de vitória, os bilhões em valores de brasileiros depositados em seus cofres, ministro T.G.Herz marchando à frente, sob a égide do pavilhão verde-amarelo tremulando contra o cenário alpino!).
Entretanto a diplomacia parece anda fazendo trabalho dobrado, graças às trapalhadas oficiais. E os jornais brasileiros, envergonhados da pressa em publicar o que não era certo, procuram “melhores esclarecimentos”, “averiguar”, com os desvios para a sutilmente, agora, alegada “talvez perturbação da moça”, etc.
Na minha condição de absolutamente leigo em questões neonazistas, psicológicas ou psicóticas, e assuntos da área médico-forense, diria, pelas fotos, de fato ser automutilação (sem hífen, eu sei...)
Os desenhos são relativamente suaves e regulares (um nazista dedicado, amante da geometria?), feitos onde a mão alcança e longe de áreas sensíveis, como seios e rosto, além de preservar-se intacto, pelo impossível alcance rupestre-pictográfico, o monumento à beleza brazuca, o valioso traseiro. Sugeriria a moça agora receber do sempre compreensivo governo brasileiro, e da família tão indignada, ajuda psiquiátrica potente.
Pois quando ela souber a história não ter respaldo geral, com o namorado abandonando o barco e a briga com os legistas suíços ser séria, por envolver algo impalpável como a criativa fantasia pela histeria, há de desmoronar.
E as conseqüências (claro, sem trema, eu sei...) complexas. Os tão cruéis suíços e seus médicos recomendaram à família a moça ter o tal acompanhamento, pois temem danos maiores. E sugeriram, a família aceitou, apesar do apoio de centenas de jornalistas brasileiros contra os suíços, por enquanto nada dizer à criatura, internada com isolamento.
A ser removida à pátria amada para longe dos discípulos de A. Hitler, sob risco de morte* (sic), como diz a moderna correção literária brasileira de nossa tão diligente imprensa.
Imprensa brasileira não se curva diante de fatos, nem se desculpa. Apenas silencia, é assim.
* Certo grande jornal paulistano se arroga a alteração para “vítimas não correm mais risco de morte”. Curioso, utilizava-se sempre sob risco de vida, intuía-se sob risco de perder a vida, comum na linguagem. Nas demais línguas, penso eu, usa-se o termo "estar sob risco de vida." Unter Lebensrisiko pelos alemães, por exemplo, como “sob risco de vida” e, na shakespeariana with life at risk., “com a vida sob risco”. Aqui mudou?