Caro Hermógenes,...
Caro Hermógenes: saiba que, mineiro (embora não praticante), na minha infância e juventude bati altas e animadas caixas com peixes. Já que tudo é proporcional, como interlocutores não tive mais do que piabas, acarás, bagres e raras traíras.
(Prefiro não mencionar o compulsório e intragável bacalhau da Emulsão de Scott.) Ainda assim, foram papos instrutivos, só interrompidos quando me mudei, faz quase 40 anos, para as margens do Tietê e do Pinheiros, onde não me ocorre dialogar com pneus fora de uso e sofás sambados.
Aprendi a compreender, respeitar e amar os peixes miúdos (não fosse eu um deles), sem prejuízo do apreço que tenho pelas magníficas feras marinhas que já vi serem pescadas, sem muita conversa, nos mares do Caribe. Por extensão, aprendi que uma obra de arte de pequenas dimensões pode ser infinitamente maior do que uma farta em páginas.
Os contos de Hemingway, por exemplo, me parecem incomparavelmente melhores do que seus romances, entre estes incluído, me perdoe novamente, “O velho e o mar”.
Abraço, e não me queira mal – me queira bem.
Humberto Werneck
Caro Humberto,
a alguém de sua estatura jamais um espaço acanhado como os "comentários" de um pouco significativo site. Site piaba, seria bom nome... Portanto tomei a liberdade de "postá-lo" em cinemascope, com página inteira para a réplica (sem mui fervorosa tréplica), com meus perdões por todos os horríveis neologismos e anglicismos. Uma honra seus comentários, de qualquer sorte e por isto e nem por isto, quanto mais por isto e tanto por isto, enfim, já quero muito bem. Além disto, seu espicaçar, um tantinho, com vara longa já que o homem faz tanto se foi, o Hemingway, me parece coisa que os alemães chamariam de necken.
Algo de gente maior, na mesma atividade.
Leio aqui:
-"Como surgiu sua paixão pelo jornalismo literário?"
"Nasceu da minha paixão pela literatura e pela consciência de que você pode usar a palavra de uma maneira também que seja bela. A palavra não precisa ser só uma coisa funcional. Olhava às vezes o noticiário do jornal, a informação estava ali, mas podia ser contada de uma maneira mais saborosa, mais atrativa. A beleza é uma coisa que trabalha pela informação, o uso dessa ferramenta estética favorece a informação. E o que nós jornalistas pretendemos a não ser passar uma informação?"
As palavras são suas, mestre, porém penso E. Hemingway ia pela mesma avenida.