Nascidos no mesmo dia
Por Ildásio Tavares
Somos aquarianos, nascidos no mesmo dia, eu e Sampa. Certa feita, o imperdível José de Anchieta, profetíssimo, falou ,“Vamos fundar esta cidade no dia em que São Paulo caiu do cavalo. Vamos dignificar esta Vila de Piratininga”. E fundou a cidade, a 25 de janeiro, que é o dia da conversão de Saulo, saduceu a serviço de Roma que, a partir desta data, transforma-se no apóstolo dos gentios. Ele, Paulo, foi quem definiu a doutrina de uma religião que o pobre do Yeshua-ben-Yossef, mais conhecido como Jesus, não delineou --apenas pronunciou seus preceitos áureos. Paulo é responsável pelos princípos basilares da nova religião. Foi ele, inclusive, quem definiu o evangelho seria pregado aos não circuncidados, ampliando o âmbito da religião antes limitada ao povo judeu. Paulo disse, "não confieis nos ensinamentos das mulheres"; é, até hoje, as mulheres não têm o sacerdócio cristão.
Eu estava em casa, posto em sossego, quando bate um telefonema do meu amigo irmão de tantas lutas, o absolutamente maestro Julio Medaglia. “Venha passar seu aniversário comigo” ele aliciou. “Como assim?” respondo. Júlio me disse que estava encarregado do evento comemorativo dos 454 anos de Sampa. Um coquetel com a presença de José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Gilberto Kassab. “E que é que eu vou fazer neste piquenique de políticos, perguntei? “Deixe de bobagem que você é amigo deles”, Julio frisou. “Kassab eu nem conheço. Deve ser amigo” de Luis Mott. FHC eu me dou mas não me dou. Só Zé que é do meu time; foi da luta armada como eu”. Julio falou que não importava, porque o bom mesmo era o concerto que vinha depois e que trazia uma preciosidade, o Credo de Pedro de Bragança nosso primeiro imperador, cabra retado, comeu todo mundo, foi rei em dois países, Pedro I e IV, ainda deixou a filha no lugar e nas horas vagas compunha música erudita.
Lá fui eu, com minha filha Jéssica a tiracolo, legítima morena baiana que encantou paulistas. Na sexta, o pessoal da Escola de Samba Nenê da Vila Matilde nos pegou para um ensaio no sambódromo. A Nenê levou minha ópera negra, Lídia de Oxum, com Lindembergue Cardoso, ao asfalto. Uma farra. No sábado, almoçamos no SESC Vila Mariana com um excelente conjunto de chorinho, Linha de Passe, que a Bahia devia ver. À noite, fomos ver o Hamlet atrevido de Wagner Moura que lotou o imensamente magnífico teatro da FAAP. Wagner não hesitou em submeter o Bardo de Avon a uma desconstrução, para ousar reconstruí-lo num viés contemporâneo. Entre mortos e feridos salvaram-se todos.
No domingo, aniversário, almoço no Terraço Itália, a 42 andares de altura deslumbrante vista desta cidade aquariana. Eu e Jéssica fomos a uma happy hour e depois ao coquetel dos 454 anos; falamos com a turma política, assistimos ao concerto de Julio Medaglia e fomos à tradicional Pizzaria Esperança. Segunda e terça, Jéssica fez a festa em compras na 25 de Março. Ainda visitei os amigos Fabio Lucas e Nelly Novais Coelho, a grande dama da Literatura Brasileira.