Ipiaú, princesinha do vale do Rio das Contas.
Antes de 1982 nem ao menos havia ouvido falar do local, a pequena Ipiaú no interior da Bahia. Por estas questões d´alma e do romance, conheci-a. E a cada ano para cá volto, com minhas andanças pela "rua", já que por aqui as ruas são conhecidas apenas em singular forma. Por sinal não há placas com seus nomes, ou são raras. Ou foram furtadas.
De qualquer modo, segui por aí e com minha fiel Sony fui batendo umas chapas, a mostrar que a preservação é fato, onde não há grandes ímpetos desenvolvimentistas. Desde 82 por aqui pouco muda, diria quase nada. São as mesmas casas, ruas e praças.
Um prédio de uns 10 andares, o único da cidade, permanece inacabado, desde aquela época. As pessoas um pouco mais alegres, com algum alento pela instalação de uma poluidora mineradora de níquel, com melhor nível de emprego.
Os hábitos, porém, imutáveis, até os menos saudáveis como a imunda feira e seu fétido mercado de carnes; e os terrívelmente barulhentos sons públicos, de alto-falantes em postes, música de carros e anunciantes. Um inferno sonoro.
O entorno muito pobre, a certa feita rica região jamais se recuperou da praga que se abateu sobre suas roças de cacau, a tal vassoura-de-bruxa. A miséria faz parte do cotidiano.
Mas vamos às fotos. (Cliquem sobre elas para ampliar.)
A grande malvadeza com os pássaros continua, mas a bucólica gaiola pendurada na porta da oficina faz parte do cotidiano.
SInais da grande crise que se aproxima, os botecos já vazios, o movimento diminui com certa rapidez. A grande geradora de novos empregos, uma mineradora de níquel, sucumbe à crise dos commodities com seus preços despencando.
Com isto a procura da grande sorte faz filas, onde os humildes gastam um pouco para imaginar ganharem milhões, enchendo as burras do governo e fazer a alegria de um ou outro sortudo.
O passeio pelo comércio, a comprar pouco. As moças sempre desfilam, aqui ou em Viladivostóque.
Martinho Lutero virar-se-ia no túmulo, se tal visse. Mas as igrejas alternativas no país alicerçam-se primordialmente na questão financeira. Paga-se para obter a graça divina.
O mercado de carnes de Ipiaú, sem refrigeração e com a preparação das carnes nas calçadas é constrangedor mas nenhum prefeito deu conta de reparar este monumento à imundície.
A remoção de lixo com caminhões basculantes abertos, os pobres homens fazendo esforços hercúleos com o privilégio de pingos de chorumem dos latões em seus rostos.
A interpretação do código de obras é singela, caso ocorra. A inventividade e criatividade elogiável.
marbidi - 08/01/2009 (16:01)
Acho que vai por aí mesmo...
Hermógenes de Castro & Mello - 07/01/2009 (14:01)
No artigo 176 desprende-se em comentário que o homem Anonymus teve vida difícil (e parece ser carioca, o que já é certa cruz a carregar), assim imagino que tem alguma resistência ao leve ranço xenofóbico que assola o país, como por exemplo, apesar de simpática, a história dos gatinhos do forno, que não são biscoitos. Mas também podem por acidente ou desejo, ser assados...
marbidi - 07/01/2009 (13:01)
Ou eu ou este tal de Anônimo, um de nós tem problemas de interpretação de texto. Devo ser eu, já que não consigo encontrar os caudilhos soviéticos em parte alguma destes textos, quer seja no seu, Hermó, quer seja no meu. Bem, ele é quem deve saber.
Anonymus - 02/01/2009 (15:01)
Pobre local onde os gatos nascem em fornos. Deve ser uma bagunça e sujeira danada. Mas se alguém disser que o gato deve ser biscoito, e comportar-se como tal, sinta-se então certo pesado ranço de autoritarismo caudilhesco, a enxotar gerações de estrangeiros que aqui chegaram. Nossa língua é o português, nosso esporte nacional inglês, a gravata (e terno), ridícula por estes trópicos, nunca foi substituída pela bem mais prática tanga indígena, mas ai se disser que somos sujos, malvados e violentos. Aí bota nacionalismo, rotulando qualquer um de gato de forno com dificuldades de ser biscoito. Brasileiro só quem veio na boléia das caravelas de quem depois nunca mais por aqui apareceu? Hermó, cuidado com os corretos de plantão, são terríveis. Soviéticos...
marbidi - 26/12/2008 (23:12)
Uma pena, ou sorte do blogueiro e demais leitores o fato de este leitor e comentarista ter de, em razão de conexão apenas por celular, limitar-se ao essencial, portanto por ora nada mais que um elogio, e este vai para a graça na sinceridade da descrição germano-antropológica de horror à sujeira e à "interpretação" local ao código de obras. Gato que nasce no forno, de fato não é biscoito. Mas a confeitaria, ainda assim, agradece.