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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Thomas Jefferson

Independentemente de seu brilho como estadista, Jefferson é figura curiosa na história americana, pelo seu estranho dualismo na questão entre escravagismo, liberdade racial, mescla de brancos e negros. Nestes dias de Bahia, por onde passo todos os fins-de-ano para as, confesso, já um tanto enfadonhas festas de época, a comemorar-se ritos muito distantes de nossa realidade, a perderem o brilho e significado, vejo-o com mais clareza.

Por aqui a mescla racial é constante e por um lado plenamente, e com toda nobreza, assumida; por outro lado há velado racismo, onde minúsculas nuâncias são ajustadas para determinar-se o desnecessário "grau" de pureza entre as etnias.

Ontem minhas parentas próximas, mãe e irmã, muito conscientes das distinções sociais e raciais, me comunicaram estavam a comemorar seu Natal com convidados especiais: as três empregadas e o caseiro, todos negros. Felizes, e eu também, pelo gesto; me fez lembrar Jefferson, ao lado de Bill Clinton e Roosevelt reputo os únicos políticos autênticos da grande nação, onde por obra da democracia a política não tem, a rigor, tanta importância. A tal administração funciona sem a grande influência nefasta dos aproveitadores permeiam e se apoderam do que dizem ser política.

Thomas Jefferson enviuvou de Martha Skelton Jefferson ao final de sua quarta década de vida, e jurado à depois falecida jamais casar novamente, manteve até o final da vida relacionamento marital com sua escrava Sally Hemings. Com vários filhos, acompanhado-o a Sally em viagens até a distante Paris.

Era a favor do fim da escravidão, porém, péssimo de negócios, Thomas empenhou sua herança, proveniente dos pais e do rico sogro, e os escravos eram parte. Serviam como garantia de empréstimos, não podiam ser alienados, portanto. Nesta dualidade econômica dizia-se pela libertação, entretanto mantinha os seus servos em correntes.

Morreu quebrado.

Mesmo a favor da abolição, escreveu absurdos como:

"The amalgamation of whites with blacks produces a degradation to which no lover of his country, no lover of excellence in the human character, can innocently consent."

"A amalgamação de brancos e negros produz uma degradação à qual o amante desta nação, e amante da excelência no caráter humano, não pode consentir inocentemente."(!)

O detalhe curioso era a maioria dos senhores de alguma projeção nos EUA àquela época, seja por méritos ou meios, terem após a bastante freqüente precoce viuvez (dado às péssimas condições de partos) o hábito não admitido de tomar como esposas suas escravas, alguns até com pequenos haréns. Jefferson o faz com Sally Hemings, por acaso meia-irmã de sua falecida esposa, pois o sogro, após o terceiro casamento, toma como esposa a negra e sua escrava Betty Hemings, mãe de Sally e com isso filha do sogro. Certa meia-cunhada, portanto.

Todos os três admiro pelo não belicismo de suas ações até os últimos recursos, nem sempre bem-sucedidos, estes três presidentes americanos. E todos se envolveram extra-maritalmente com criaturas, digamos, impedidas. Negaram a existência, fosse escrava, secretária ou estagiária. Viúvos ou casados.

Há formas no amor. A comum seria surgir alguém que nos encante, por apresentação ou visualização, aproximação e enlace. A menos comum por convivência, o que certamente era a questão destes cavalheiros e tantos outros, mundo afora. São as princesas que se apaixonam por seus guarda-costas, pacientes por enfermeiras, senhores de terras por suas escravas, presidentes por estagiárias.

São assim.

Thomas Jefferson, escravocrata e abolicionista, casado com branca e amante de uma negra.

Comentários (clique para comentar)

José de Codes - 08/01/2009 (08:01)

Em 1802 sem computadores, estatísticas e análises de mercado..."Quote of the Week: 'I believe that banking institutions are more dangerous to our liberties than standing armies. If the American people ever allow private banks to control the issue of their currency, first by inflation, then by deflation, the banks and corporations that will grow up around the banks will deprive the people of all property until their children wake-up homeless on the continent their fathers conquered.'Thomas Jefferson 1802. Trad.: "Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que o levantamento de exércitos. Se o povo americano alguma vez permitir que bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, e depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão à roda dos bancos despojarão o povo de toda a propriedade até os seus filhos acordarem sem abrigo no continente que os seus pais conquistaram."

Hermógenes de Castro & Mello - 07/01/2009 (09:01)

Dizem que os concidadãos de Guilherme Vibralança sairam ao mundo em suas naus não para conquistar novas terras ou espaços, nem amealhar riquezas. Sairem de encontro às mulheres diferentes, morenas, negras, índias e amarelas. Cansaram-se das inglesas de cabeça feita a ritos religiosos incessantes, moralismos e comportamento casto. Basta ler a história verídica do Bounty, onde a tripulação amotinou-se no Tahiti, em parte pelos maus-tratos do capitão Bligh, mas mormente por não quererem retornar à sombria Inglaterra. Nunca o fizeram, refugiaram-se em Pitcairn no Pacífico, onde tahitianos de cabelos loiros vivem até hoje. O amor é lindo e com as morenas de olhos amendoados não havia colonizador que resistisse. Basta ver a quantidade de cafés-com-leite neste nosso querido Brasil.

Ildásio Tavares - 06/01/2009 (16:01)

A situação na Bahia é bastante esdrúxula com os filhos bastardo das escravas tomando o sobrenome do pai e gerando, por exemplo, os Calmon legítimos e os Calmon ilegítimos, paralelas que às vezes se encontram. Shakespeare dizia "The course of true love never doth runs right". Forçado é refletir sobre os poderes de sedução das negras, vide Essa Nêga Fulô;