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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

A vitória da mediocridade

Na contra-mão de todas as tendências e historicismos, sigo a proclamar, respeitosamente, queiram ou não, estarmos em tempos de largas vitórias da mediocridade. Associada à falta de brilho, do egoísmo visceral, esperteza, a maldade profunda e volúpia ignorante.

Assim caminhamos. Não nos atemos mais aos momentos de observação e audição com contemplação, a aprender e admirar. Seguimos pelo sem estilo, sem forma, sem conteúdo. Resignamos nossos pensamentos a compras, vendas massacrantes, prazer imediato e admiração pelo que parece belo. O outro a se danar. O humilde se exploda, com sua prole.

Leio em jornal de alguma relevância sobre encontro de proprietários de iates em Angra dos Reis, a comentarem que a festa é boa, pois só vai "gente fina", donos de barcos. Um soturno ex-jogador de futebol e sua companheira discorrerem na mesma ocasião sobre sua provável aquisição, discursando sobre os valores milionários como se fosse o Klimpergeld de Engels, as Almosen de Marx, valores ínfimos.

Da moça a matar pela mãos do amante-segurança ignorante o recém-milionário, o qual, imbecil pelos conceitos vigentes, ao invés de gastar com estilo o dinheiro ganho nesta aberração que são as loterias, ousou comprar casas para os 11 irmãos humildes; e ao ser intransigente com a filha voluptuosa na gastança e os descomedidos desejos da companheira, pagou caro, deram cabo do coitado.

O assaltante dirigir-se ao assaltado usando termos como otário, panaca, imbecil, bobão, trouxa e por aí vai. Humilha a vítima, falsamente colocando-se como dominador da situação, alavancado pela cocaína e o álcool. Terminado o ato, e o efeito dos troços, cai em si, a verificar o verdadeiro trouxa. Só a repetição para esquecer. Esquiva-se à mediocridade, alertando a verdade de seus atos ser a questão social maior, os mandantes e líderes das elites a não resolverem. Com alguma razão, se não fosse o ato violento, nem sempre oriundo da pressão social.

O presidente da mais poderosa nação navegando em um mar de bullshit, o estrume bovino que sempre tão rapidamente vai à boca dos caubóis poderosos, apresenta-se como o pior de todos, já desqualificando o corrupto Nixon e o desinteressado Truman. Brilhantismo de um pedaço de carvão, o discurso se mostra contraponto fiel aos excessos passados nos clubes de campo, onde em algum momento de contemplação no vomitorium, diz ver o imaginado todo poderoso a guiá-lo para objetivos maiores. Ele a permanecer o menor. De todos. 25.000 iraquianos mortos, uma medalha de sangue no peito do desinteligente.

A união européia a procurar como, na forma de bandoleiros medievais, expulsar com mão de ferro as multidões dos miseráveis provenientes de suas ex-colônias. Ou criando-lhes guetos infectados e escuros, mal aceitando-os como cidadãos de terceira categoria.

No extremo oriente a aberração comunisto-capitalista de uma China gigante monta a maior poupança pública da história deste planeta, sem quaisquer repasses ao bilhão daqueles que talvez um dia tenham acreditado no impossível sonho de Mao e hoje almejam pelo automóvel, o sanduíche gringo e filmes de Hollywood.

Por aqui permanecemos inativos, desinteressados e seguidores da doutrina dos tempos escuros: ganhar muito, fazer pouco e os outros que se danem. As massas entregam-se aos sagazes populistas, interessados na valiosa eternização de seus dúbios feitos e efeitos.

Sumiram as lideranças com brilho, com alguma história, mundo afora. Após Adenauer alguém cita um chanceler de destaque na Alemanha ressurgente? O que houve após Churchill? De Gaulle seria o último com algum discutível conteúdo? Qual presidente americano após Roosevelt nos deixou ouvindo suas palavras com mais atenção? O que houve seguindo a Perón? Lembraremos de Getúlio ou de FHC no futuro distante? Aliado ao nefasto Pinochet, Allende é ainda recordado, mas lá vão 37 anos. Quem veio após?

A música, este espelho lúdico e leve de nossa habilidade e brilhantismo, segue o mesmo estranho caminho. Ninguém após Stravinsky e Villa Lobos, talvez um enjoado Phillip Glass. Os jovens de hoje ouvem os jovens de 30 anos atrás, os agora sexagenários Pink Floyd e Beatles já que entre as atuais bandas nada para parar e ouvir. Ouve-se andando, sem interesse. Aguça-se o espírito quando vem a batida dos anos 60, nossa música popular a fixar-se em Tom Jobim, mas desinteressar-se pelos novos, cantando o velho Buarque, vivo porém sem novidades.

Épocas escuras, egoístas, humilhantes. Uma Idade Média cibernética, onde a cobiça dos poderosos anônimos dita as regras. Tempos como onde Nicoló Machiavelli, um destaque, aconselharia os príncipes a praticar a política em seu benefício. Maldoso, porém brilhante.

Hoje, nem um Machiavelli há. Príncipes medíocres porém à vontade.

Por que agora somos assim?

Nicoló Machiavelli, brilhante. Não há mais homens assim ou as exigências se sofisticaram, sem atingir-se o que parece ter estagnado nos anos 40 do século passado.

Comentários (clique para comentar)

Hermógenes - 14/12/2008 (10:12)

Interessante a entrevista do Gustavo Acioli. Meio montada e discursiva, mas interessante.

- 14/12/2008 (10:12)

Nada a declarar ....clique aqui para ir a http://www.youtube.com/watch?v=H34mLyobstc.

Carlos - 11/12/2008 (08:12)

Bom!

Hermó - 10/12/2008 (14:12)

A criatividade talvez não tenha sofrido tanto, no tocante ao humor. Falando em filosofia, aos interessados algo bem divertido sobre o tema. Vejam em www.youtube.com/watch?v=moWZm66J_yM.

Anonymus - 10/12/2008 (11:12)

"God is dead", não foi o que declarou um dos grandes filósofos? Ao que, dizem, respondeu o Cara com: "o filósofo e sua filosofia morrem". E Nitzsche se estrebuchou, doido de sífilis... mas sua filosofia permanece, o grande Pastor lá de riba, se enganou. Enganou-se, pois não erra, o Cabra.

Ildásio Tavares - 09/12/2008 (22:12)

Concordo. Vivemos a morte da filosofia e dos gênios

António Gomes André - 09/12/2008 (19:12)

Um amigo confidenciou-me que,"se existisse aquilo que eventualmente não existe, haveria mutação do pensamento, desdobramento da personalidade e a sublimação da existência humana. O não existir, a dualidade de conceitos corta e enxerta a razão do pensamento e do agir." Até faz sentido neste contexto.

Hermógenes de Castro & Mello - 09/12/2008 (15:12)

Cara Zara, tens razão. Um instante atrás, novamente, verfiquei em duas frentes com a tal mediocridade, que impera. Um colégio destes elitistas aqui de Sumpa oferece a opção de pagar-se o ano curricular à vista. Ótimo. Mas para tal, por ser soma, digamos, robusta, deve haver algum atrativo no ato. Um valor, portanto, substancioso na porcentagem. Nada. Oferecem migalhas. Recorreu-se a um pedido de algo mais sólido. Devolveram que não se trata de um benefício financeiro, mas de uma comodidade e seria algo pouco aceitável para aquela instituição "negociar" descontos. Colégio de béquigraunde católico, sabidamente bons de arrecadação. Nada a fazer portanto, mas imaginei quantos seriam, os pagantes na condição à vista. E que, sabidamente, seria uma estratégia de inteligência da instituição, a estes poucos negociar um descontozinho maior. Criaria empatias maiores, quiçá contribuições espontâneas, em se tratando de algo sem fins lucrativos. Ou seja: por lá aos bons pagadores as duras regras, aos maus a negociação, com as inevitáveis perdas. Como o governo: aos bons pagadores de impostos infernizam a vida, enviam fiscais corruptos (óbvio, por lá há o que fiscalizar) e literalmente inventam regras confusas para adoçar o trabalho dos folgados. Aos maus pagadores os perdões, os parcelamentos, a anulação de multas ou processos com solução sine die. Em Mumbai na Índia os ataques ocorreram com terroristas vindos do mar, em botes.Agora reforçaram a fiscalização: dos aeroportos... A mediocridade impera, a lembrar o bêbado que procura suas chaves perdidas, anunciando ter acontecido pelo meio da rua, fazendo-o porém na calçada. Inquirido, retrucou que ali era mais fácil, pois havia a luz do poste... Este porém é apenas bêbado, os demais medíocres; e em algumas instituições, governos à frente, acham bom abrigo.

Ludwig von Albarus - 09/12/2008 (14:12)

DEUS, QUANDO DISTRIBUIU A BURRICE, FOI PRÓDIGO. MAS QUANDO DISTRIBUIU A INTELIGÊNCIA, FOI EXTREMAMENTE PARCIMONIOSO !!!!!

LUDWIG VON ALBARUS

Zara Patricia Mora - 09/12/2008 (13:12)

somos assim porque evoluir não é ver passar o tempo,nem chegar em ter mais dinheiro ou posição ,não há nenhum canón marcado e isso é o que assusta ,porque não saberemos como despertasse o dia amanhã.Um cumprimento