Press Lobby ou obrigado por fumar
Há temas controversos, entre eles o que chamaria de "assessoria de imprensa". Não sei da origem (mas provavelmente fenômeno impulsionado com a maior difusão dos jornais e alfabetização no passado distante, a relativa independência dos meios de comunicação, a formação de estados laicos e assim por diante). O que se escreve pode, se não bem visto e revisto por quem o deglute, influenciar a opinião, o sentimento, o voto.
Visto sempre por duas óticas. O "press lobby" nefasto a influenciar os jornalistas de modo a privilegiar pessoas, grupos, ideologias e tendências. E o positivo, permitindo e movimentando para que um jornal se mantenha independente; e retrate ambos os lados da questão, para o julgar ser competência dos leitores. E eleitores.
Um excelente filme sobre este tipo de atuação, por bem pensada opção do diretor pouco claro se positivo ou negativo, mas realista, é "Obrigado por fumar", dirigido por Jason Reitman e muito bem interpretado por Aaron Eckhart, que recomendo. Em qualquer locadora.
Um "lobbyist" e assessor de imprensa atuando pelo inatuável, daí a sátira (ou realidade), progresso da indústria tabageira. As tiradas excelentes, assistam com prazer. O envolvimento do excelente ator, na trama, com uma jornalista que de tudo faz para uma boa matéria (e pagar as hipotecas, como diz) é talvez um tanto quanto próximo da realidade. A tal Monica Veloso, do Renan boiadeiro, é destas jornalistas de resultados... Sem desmerecer a classe. Mas também fez "de tudo"...
A traduzir-se tudo, às vezes, em realidade cômica a verificar como há influências para isto ou aquilo, como por exemplo mudar os resultados de determinada questão. Com a privatização das rodovias federais para uma empresa espanhola, a custos interessantes, mexeu-se com os brios das nacionais (que sempre tudo levavam em obras e muitas privatizações). Expos-se como cobram caro dos usuários para utilizar-se as rodavias de que cuidam.
Algum "lobby" se mexeu e surge um diretor de construtora a dizer, em coluna social de jornal (lugar pouco adequado, imagino) que estava "decretado o fim das empresas" por cá. Logo adiante dá-se grande destaque a postergação do resultado oficial do tal leilão. Ou seja "ganharam, mas ainda não levaram".
A empresa vencedora é "triturada" na imprensa, dizendo-se dela que envolvida em falcatruas na Espanha, obras mal-feitas, etc. etc. Até um colunista de destaque, que imaginava isento, por opiniões, digamos, sóbrias, acabou citando o troço todo, com tendência menos neutra, favorecendo de alguma forma os possíveis perdedores. Porém o partido que governa e promoveu a privatização (ao contrário do que pregava, dizendo ser coisa neo-liberal, assim como era contra o imposto sobre todas transações financeiras, rotulando-o pouco democrático) tem bom "lobby" também, admirável até.
Consertam tudo, desde asneiras rotundas ditas pelo líder máximo ou a declarar possível ingovernabilidade sem os tais impostos, que deseja a administração federal aumentar ou manter.
Nem sempre a nós leitores é dado o privilégio de julgar a partir dos escritos de jornalistas influenciáveis; e nem tudo impresso, televisado ou "internetizado" veio influenciado. Mas ao leitor menos atento, o alerta: tente filtrar o que é possível, por bom senso.
Recentemente conheci um sujeito, engenheiro e funcionário público, classe média paulistana que se diz, modestamente, apenas metroviário. Na conversa que seguiu animada e que acompanhei com interesse, percebi que todas suas opiniões eram lastreadas naquilo que lia em jornais, revistas e visto na TV. A perceber-se a forte influência dos meios e, claro, de quem pode manipulá-los, por seus métodos, como os "assessores de imprensa".
Maquiavélico, mas coisa de nós humanos.
Somos assim.