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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Por que somos muito melhores que os argentinos?

Pura provocação, a todos. Porém de qualquer modo eu tomo a irônica liberdade, sarcástica até, de listar porque nós brasileiros nos consideramos tão superiores aos demais povos, argentinos incluídos.

Faz pouco lá estive, na terra dos platinos. Sinceramente acho deve ser dos bons lugares deste planeta onde viver, pois com a superfície maior que a Índia e seus 1,1 bilhões de seres miseráveis em grande parte, nossos vizinhos têm apenas estáveis me parece 39 milhões, com metade em Buenos Aires e arredores. E apesar de anos com governos não exatamente democráticos ou mesmo exatamente inteligentes, a miséria menos se apresenta. Porém como nós somos quase 190 milhões com área mais do dobro maior, nos torna melhores, óbvio.

Mucho mas mayores, hombre!, diria Lula à Cristina Kirchner.

Ganhamos a copa de futebol mais vezes, portanto neste ínterim somos mais próximos de Deus, pela importância do assunto; e sabidamente não é argentino, mas, claro, nosso Compatriota. Ou alguém duvida a Criatura-criadora não usa trajes verde-amarelos? Ora...

Temos veículos movidos a álcool, eles se contentam com gás, sabidamente inferior (dizem os daqui, entretanto não entendi corretamente a razão.) Temos a Embraer, ícone da superioridade tecnológica brasileira e decorrência da nossa sabida, por aqui religiosa, dita primazia em voar com motores, eles pouco tal desenvolveram.

Eles têm escolas para praticamente todos, nós jamais perdemos tempo com estas bobagens educacionais, somos todos naturais autodidatas, como Pelé e Villa Lobos. Por lá há incompreensível preocupação com a escola básica, pública, aquela a ensinar ler, escrever e fazer contas. Aqui, sabidamente melhores, derramamos a grana nas universidades para que estes todos candidatos às vagas, pelo menos, tenham o direito ao curso superior, mesmo não o façam ou completem. Para cursos muito importantes nas universidades federais como estudar línguas extintas, restauração de arte italiana e esportes, por conta dos impostos todos pagam.

Enfim, quem lá for, ficará orgulhoso de quão elegantes, com caros granitos e hidrantes revestidos em aço inoxidável são equipados nossos majestosos aeroportos, comparados aos simplórios deles, admita-se funcionais até. Da falta de congestionamentos em Buenos Aires, com quase 19.000.000 de habitantes em sua área estendida. Vejam a ausência de progresso...

Da comedida violência, quando nós sabemos nosso sangue latino não levar desaforos para casa, ao menor indício. Pelo entendi, mata-se menos por lá, assalta-se menos, rouba-se menos. Qual atraso! Os jornais de lá, talvez, maldosamente omitam em penosa auto-censura (todavia não acredito), porém em matéria de corrupção e desvios de valores públicos, nós sermos infinitamente superiores aos demais, pelo aqui se publica. Campeões!

E com impunidade praticamente certa; ou poderia alguém citar quem recentemente de todos os presos preventivamente nos muitos escândalos assim o continuam? Quem já foi julgado? Nisto somos também bem melhores.

Nossa justiça é quase divina, talvez daí decorra a lentidão extrema.

E por fim, para não alongar mais esta ode à nossa infinita superioridade, certo exemplo prático.

Ao voar para lá, os atrasados argentinos requerem preencher-se apenas formulário curto (sim, de fato, em muitos países verificou-se até este ser inútil, porém as gráficas necessitam viver de algo, correto?). Nosotros brasileños já avançamos; e exigimos dois formulários, de todos os passageiros. Um para nossa onipresente polícia federal, o “cartão de entrada e saída”. Outro será a “declaração de bagagem acompanhada”. Preenchidos os papéis, certa desinteressada senhora no balcão da polícia receberá os passageiros; irritada pela interrupção da novela a berrar em modernos monitores por lá espalhados, todos virados para os guichês. Rosnará o “cartão de entrada” não ser necessário para brasileiros (!). Por que os entregam e pedem preenchimento na aeronave? Ou não estampam "somente para estrangeiros"?

Passaportes retornados, segue-se à alfândega, onde casmurros jovens em ternos, funcionários da receita federal, sabendo o vôo vir da inferior Argentina, apenas recolherem a tal “declaração” e não inspecionarem as bagagens, nenhuma. Afinal nossos produtos são todos superiores, não há razão para trazê-los da Argentina, certo?

Por isto, compreenderam?, somos tão melhores.

Argentinos pedem um formulário. Simplificado, porém formulário.

Nós, mais avançados, exigimos dois. Este para a polícia federal (quem será conferirá depois de preenchido?)

Mais um para a bagagem. Somos muito modernos nisto, com rigor controlador afinadíssimo.

Que tem seu verso a preencher, claro; afinal aproveita-se melhor o papel. Imagino onde a receita federal guarda este papelório...

Comentários (clique para comentar)

Cornelia - 26/11/2008 (15:11)

Muito bom o seu artigo, gostei de ler! Não havia visto ainda sobre este aspecto.

Thomas Bussius - 26/11/2008 (15:11)

Ah, por isto que a CET aqui em São Paulo ainda usa os talões de multa ao invés dos Palm tops... Interessante, deve ser um bocado de papelzinho...

Anonymus - 26/11/2008 (14:11)

A gráfica que imprime estes milhares de papeizinhos inúteis, copiativos, é gringa, tal de Moore... Por isto: sempre há um bom negócio por detrás do que achamos inútil. Digamos sejam 250 vôos chegando de fora por dia, com média de 120 passageiros = 30.000 papeletas todos os dias, em três versões... 90.000, que tal? Quase 33.000.000 de papeizinhos/ano. Entenderam?

JORGE - 26/11/2008 (11:11)

NÓS SOMOS PENTAAAA !!!! NOSSA INGUINORANÇA NÃO ATRAVANCA O PROGREÇO... COM LULLA-ANÃO DE JARDIM-DA SILVA NÓIS JÁ CHEGUEMOS LÁ...